Uma nova pesquisa divulgada nesta quarta-feira (10) pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que entre 2006 e 2012 aumentou em
31,1% o uso nocivo de álcool na população brasileira, comportamento que
eleva o risco de doenças crônicas e também a vulnerabilidade à
violência urbana.
Os dados fazem parte do segundo Levantamento Nacional de
Álcool e Drogas (Lenad) que investigou os hábitos etílicos no País, por
meio de 4.607 entrevistados maiores de 14 anos, de todas as regiões do
Brasil.
Os novos dados apontam que apesar do número de pessoas
que bebem não ter aumentado no período – a taxa de bebedores permaneceu
estável em 52% – o consumo entre os que admitem beber está mais alto,
chamado pelos especialistas de “heavy drinking” (beber pesado).
“Beber pesado” ou “heavy drinking” é um padrão de consumo
descrito quando os homens bebem mais de cinco doses e as mulheres mais
de quatro copos de pinga, vodca, cerveja, uísque ou vinho quando decidem
beber. Eles não entram na classificação de dependentes de álcool, mas
isso não significa que esta parcela esteja isenta de complicações
sociais e na saúde, afirmam os especialistas.
Impactos sociais do álcool
Além dos riscos de doença e de exposição à violência, a bebida também prejudica a vida social
Pesquisas anteriores já alertaram que este padrão de
consumo, ainda que realizado uma vez por semana e não diariamente, é
suficiente para intoxicar o organismo e ser gatilho de tumores,
transtornos de humor e falência do fígado entre outros problemas.
Leia:Bebedeira de sábado é mais perigosa do que beber todo dia Por isso, os autores do Lenad disseram estar alarmados
com os novos números e não comemoraram o fato do índice de dependentes
de álcool ter permanecido em 17% nos últimos seis anos. Mulheres Elas foram as maiores responsáveis pela elevação deste
padrão de consumo do álcool que, segundo os especialistas, torna os
consumidores mais predispostos a doenças crônicas do fígado, câncer e
depressão, por exemplo, além de estar associado ao aumento de violência
doméstica, dos acidentes de trânsito, das brigas e dos suicídios. Entre elas, o índice de ‘heavy drinking’ atestado nas
bebedoras saiu de 36% em 2006 para 49% em 2012 – aumento porcentual de
36,5%. Já nos homens, a variação foi de 29,4%, passando de 51% para 66%. Leia mais:Líderes em abuso de álcool são mulheres jovens e homens de meia-idade Para a pesquisadora Ilana Pinsky as mulheres ficaram mais
exposta às pressões do mercado de trabalho, ao estresse e também
passaram a ser alvo da publicidade de bebidas, especialmente da cerveja,
o que pode justificar o maior aumento do consumo feminino. Violência Clarice Sandi Madruga, uma das coordenadoras do Lenad,
afirmou que a ligação do uso problemático de álcool e dos episódios
violentos ficou evidente com a nova publicação.
“Entre os 6% que relataram terem sido vítimas de
violência doméstica, metade disse que o agressor estava embriagado no
dia da agressão. Nosso estudo indica ainda que 5% dos brasileiros já
tentaram suicídio, parcela que sobe para 41% entre os bebedores
problemáticos”, pontuou a especialista. Renda e políticas Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, um dos autores do
estudo e um dos maiores pesquisadores do uso de álcool da América
Latina, são duas as explicações para os novos números. “A primeira delas é que o aumento de renda da população pode explicar o agravamento do hábito de beber”, avalia. “Atestamos que a quantidade de abstêmios não foi alterada
(ficou em 48%), mas aqueles que já bebiam estão bebendo mais doses,
investindo mais dinheiro em bebida, o que é muito perigoso para a
saúde”, explica. “A segunda questão é que a falta de políticas públicas
para desestimular o uso de álcool ficou evidente. A única existente no
País é focada em coibir o ato de beber e dirigir. Mas é preciso investir
em modelos, conforme preconiza a Organização Mundial de Saúde, que
elevem o preço das bebidas, diminuam os postos de venda e o horário de
funcionamento dos estabelecimentos, sem esquecer a regulamentação da
publicidade do álcool”, afirma Laranjeira. Lei Seca
A boa notícia é que a chamada Lei Seca, em
vigor no País desde 2008 e que ficou ainda mais rígida no final do ano
passado, de fato surtiu efeito no comportamento da população brasileira.
Em 2006, 27,5% dos pesquisados admitia beber e dirigir, índice que caiu
para 21,6% em 2012, uma diminuição de 21%.
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