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TARAUACÁ: O CASO “JOÃO GRETINHA”


*Por Isaac Melo

A história dos seringais, longe de ser idílica e romântica, é uma história, antes de tudo, marcada pela violência, que ocorre sob múltiplas formas.

Em 1943, aos 34 anos, José Potyguara publicava “Sapupema: contos amazônicos”, seu primeiro livro e a primeira obra com temática exclusivamente acreana. Dentre os treze contos, um intitula-se “Flor no charco”, onde Potyguara narra um trágico episódio ocorrido treze anos antes, quando ainda era promotor público de Feijó, então 2º. Termo da Comarca de Tarauacá.

Seabra não tinha mais que dois mil habitantes, quando em 7 de abril de 1930, um crime retirou do marasmo a pacata cidade. A notícia correu célere de boca em boca, de seringal a seringal, de colocação a colocação. E por muito tempo, não se falou em outra coisa, a não ser no “crime do kilômetro 14”.

O personagem principal dessa história chamava-se João Pereira Lima, vulgo “João Gretinha”, cujos feitos, mereceu de seus contemporâneos a comparação com os de Lampião, o Rei do Cangaço. E foi, por alguns anos, o homem, senão o mais temido, certamente o mais procurado da região, a levar, inclusive, o Interventor do Acre a instituir um conto de réis por quem o capturasse.

João Gretinha era um ex-praça (soldado). No quilômetro 14 da estrada, então chamada “Agnello de Souza”, que à época não era mais que um ramal, que liga Tarauacá a Feijó, hoje BR 364, vivia, às margens do igarapé Esperança, um casal de agricultores com seus três filhos, a saber: João Alves Corrêa, o pai; Izabel, a mãe; Nenen, a filha mais velha; Maria; e João, o caçula.

Gretinha um dia enamorou-se de Maria, a mais nova. E, pelas notícias e narrativas que nos chegaram, tudo indica que o interesse, ainda que íntimo e não manifestado, fora correspondido, embora a mãe não aceitasse de modo algum a possibilidade de tal união. Um dia, a aproveitar a ausência de João Alves, Gretinha, diante da decidida negativa de dona Izabel, a assassina a sangue frio, diante dos filhos, e leva a sua amada Maria com ele, mata adentro.

Quando João Gretinha fora preso, pela primeira vez, provavelmente em 1931, Maria já estava grávida, mas não chegou a ter a criança. Ela vivia entregue a uma família, até que, pouco tempo depois, em 3 de março de 1931, ela faleceu. O jornalista que noticiou seu falecimento a tratou como “cúmplice” de Gretinha.

Gretinha ficou preso até 25 de fevereiro de 1932, quando, cerrando as grades de sua cela, fugiu da cadeia. Daí pra frente, inicia-se as peripécias “lampeônicas” de Gretinha. Os jornais cunharam os mais diversos adjetivos ao “alampeonado bandido”, que passou a ser causa de terror por onde passava. Claro, muito não passa de exageros e fantasias do imaginário da época.

Quando foi recapturado, em agosto de 1932, por meio de uma artimanha, conseguiu matar um dos soldados que o conduzia, e novamente fugiu. A última referência a João Pereira Lima nos jornais de Tarauacá é um texto de João Conrado no jornal A Reforma, datado de 23 de abril de 1933, onde o autor traça um perfil de Gretinha, exaltando as suas artimanhas e criticando a ineficiência das autoridades em sua captura.

A seguir, transcrevemos, ipsis litteris, as notícias dos dois principais jornais da cidade, à época, a saber, A Reforma, de José Florêncio da Cunha, e O Município, de Pedro Leite, sobre o caso “João Gretinha” e o “crime do kilômetro 14”. Também republicamos o conto “Flor no charco”, do livro “Sapupema: contos amazônicos”, onde José Potyguara, com apenas algumas alterações, imortalizou o fato.


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