Campeãs do Ideb ficam em zonas rurais
Imagem: Daniel Aderaldo
O relógio digital na praça na chegada à pequena Pedra Branca, no
Sertão Central cearense, não marca a hora, mas revela um orgulho da
cidade: “Escola Nota Dez. Primeiro lugar na educação no Ceará”.
A publicidade da prefeitura faz referência ao sucesso da
rede de ensino municipal no sistema permanente de avaliação da educação
básica do Ceará (Spaece). Já a reportagem do iG
partiu de Fortaleza e percorreu 300 quilômetros até lá atraída pelo resultado em outra avaliação, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011
, do Ministério da Educação (MEC).
A nota 8,1 obtida pelos alunos dos anos iniciais (1ª à 4ª
série) das escolas de Ensino Infantil e Fundamental Cícero Barbosa
Maciel e Sebastião Francisco Duarte fez delas as mais bem avaliadas do
Estado e as assentou na 12ª colocação entre as instituições públicas de
ensino do País.
Consulte: as notas e metas de todas as escolas públicas brasileiras no Ideb 2011
Consulte: as notas e metas de todas as escolas públicas brasileiras no Ideb 2011
Por trás do resultado, ações simples, fundamentalmente de
ordem pedagógica, que vão do reforço escolar ao acompanhamento rigoroso
da frequência dos alunos. Mas, também, de ordem administrativa:
respeito à Lei do Piso Nacional do Magistério com um terço da jornada de trabalho
dedicada à atividade extraclasse, fim das indicações políticas no
preenchimento das vagas de empregos na área da educação e redução pela
metade do número de escolas do município. De 120 instituições com
instalações precárias, sobraram 60 núcleos onde, na maior parte, pelo
menos o básico não falta.
As duas escolas campeãs no Ideb estão isoladas na zona rural de Pedra
Branca, de 43 mil habitantes. No sobe e desce do relevo acidentado da
serra castigada pela estiagem, o azul marinho colore muros e se
sobressalta em meio ao areal e à vegetação do semiárido, onde, segundo a
prefeitura, apenas o caminhão pau-de-arara consegue trafegar.
Anexa a um sítio a seis quilômetros da sede do município,
a Escola Sebastião Francisco Duarte tem quatro salas de aula, dois
banheiros, secretaria, dispensa, cantina, um laboratório de informática
por ora inativo e uma equipe de sete professores. O prédio limpo,
arejado e organizado acomoda bem os 164 alunos do ensino infantil à 8ª
série do ensino fundamental, mas fica a dever na iluminação. Não há
biblioteca nem quadra de esportes.
No Estado: Ceará é o Estado que mais superou as próprias metas no Ideb
No Estado: Ceará é o Estado que mais superou as próprias metas no Ideb
Em uma sala de aula da 7º série visitada pela reportagem do iG
, os 20 alunos, entre 12 e 14 anos, tinham aula de interpretação de
texto. A lição do dia incluía a fábula “O Alce e os Lobos”, do escritor
francês da segunda metade do século 15, Jean de La Fontaine. “Não
devemos dar valor apenas ao que é bonito, mas também ao que é útil”,
apressou-se em apresentar a moral da história a estudante de 13 anos
Bianca Gonçalves de Sousa, parecendo saber como aquele ensinamento
convinha à realidade da escola.
Embora haja carências na estrutura, elas não servem como
desculpa. São superadas com a ajuda de um modelo pedagógico tradicional
baseado em disciplina, organização e acompanhamento dos resultados.
Maria Neuziran Duarte, diretora da escola, revelou a fórmula simples
responsável pelo sucesso, facilmente aplicável em qualquer instituição.
Vez e outra recorrendo a uma “cola” fornecida pela funcionária da
Secretaria de Educação de Pedra Branca, Ivonete Braga, a diretora
relatou que cada professor leciona quatro dias na semana. O quinto é
dedicado a planejar e avaliar o desempenho das turmas. Se o aprendizado
de um determinado conteúdo não vai bem, é hora de reforço. “O professor
senta para refazer a aula de uma maneira diferente”.
A presença dos alunos também é monitorada. “Se o aluno
não vem, nós vamos até a ele”. O relatório de visitas domiciliares
realizadas ao longo do primeiro semestre confirma o rigor.
As estratégias incluem ainda envolver a família dos
alunos no processo educacional. Todos pequenos agricultores com pouca ou
nenhuma instrução, os pais são incentivados a estender a disciplina do
ambiente escolar ao lar. “Fazemos dinâmicas para eles descobrirem que
para ajudar, na verdade, não precisam saber o conteúdo”.
Decepção: Município exemplo piora nota no Ideb e culpa aplicação da Prova Brasil
Decepção: Município exemplo piora nota no Ideb e culpa aplicação da Prova Brasil
Com 196 alunos, 13 professores, um espaço maior, mas
deficiências parecidas, a Escola Cícero Barbosa Maciel segue a mesma
cartilha. “Quando nós não sabemos, elas (professoras) insistem até nós
aprendermos”, disse Lairton Henrique Vieira, 12 anos, estudante da 5ª
série. Em 2011, ele era da turma da 4ª série que fez a Prova Brasil,
usada como parâmetro para o Ideb. "Foi muito tenso. Eu fiquei nervoso,
com medo", lembrou.
Sabendo que a escola passaria pela avaliação, a diretora
Maria Ducilene Pereira da Silva orientou os educadores a dedicar atenção
especial a Matemática e Língua Portuguesa. Os alunos também receberam
recomendações dos professores: “Ler a questão mais de uma vez, de três,
quatro, cinco se for preciso. Até a gente entender a questão”, contou
Maria Aline Bragada Silva, 12 anos.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/
Nenhum comentário
Postar um comentário