Você está desinformado? Incrível: pois eu também!
O quadro O Grito, de Edvard Munch simboliza a angústia humana. Sensação devora os brasileiros pela falta de novidade há dois meses das eleições
dois meses das eleições
Você está perdido, desiludido com a política e os políticos? Não sabe em quem vai votar nem onde tudo isso vai dar? Não tem ideia de quem pode ir ao segundo turno? Nem faz a mínima ideia de quem pode ganhar a eleição? Pois seus problemas acabaram. Porque este colunista, que deveria ter o poder de jogar alguma luz nas trevas, também está mais perdido do que filho de prostituta no dia dos pais.
E o pior é que o autor destas mal-traçadas assume sua incompetência de peito aberto que nem um São Sebastião sem medo das flechas. E a razão é simples: embora haja coleguinhas que queimam um quilo de latim e outro de complicados argumentos tentando exibir alguma capacidade de previsão, a verdade é que todos, sem exceção, estão absolutamente desinformados sobre as perspectivas do atual momento político brasileiro. Ninguém sabe xongas. O que não é novidade. Um levantamento do Instituto Ipsos demonstrou que o Brasil é o terceiro no ranking da ignorância dos cidadãos quanto à realidade de seus países, à frente apenas dos mexicanos e dos indianos.
E o verbo despontar, heim? Ninguém usa mais
A diferença é que, se até outro dia essa desinformação se devia ao desinteresse pela realidade política, fruto das decepções que vêm se acumulando desde que a tampa do vulcão foi aberta em 2005 com as revelações do mensalão, agora ela se deve também à total falta de sintonia da classe política com os novos tempos. Aí mesmo em seu quintal, você deve estar vendo as mesmas lideranças políticas, usando a mesma linguagem e falando as mesmas coisas, mais ou menos como “vamos trabalhar pela educação, pelo emprego e pela saúde porque essa situação não pode mais continuar e blá-blá-blá...” Faz tempo que não vejo ninguém conjugando o verbo “despontar”. Acabei de receber pelo whatsapp um patético “santinho” virtual. Sob o título de “Pelo bem do Maranhão”, três sorridentes e surradas figuras, com os polegares erguidos, se oferecem para lutar “pelo bem” do estado que tem a mais baixa renda per capita e onde mais da metade da população está em situação de insegurança alimentar. As três figuras do “santinho” são o senador Edison Lobão, um mastodonte político da era Paleozoica; a ex-governadora Roseana Sarney, uma remanescente da Mezozoica; e o deputado Zequinha Sarney, um tiranossauro da era Cenozoica, os dois últimos filhos do pré-cambriano José Sarney, o mais longevo donatário do Maranhão. Ou seja: mais do mesmo do mínimo novamente. Ou velhamente.
Está faltando sangue novo, sangue bom
Esse quadro, que se repete praticamente em todos os estados, evidencia um completo esgotamento da capacidade de renovação. Não entrou sangue novo na área. Nem o Luciano Hulk segurou a onda. Primeiro, porque as próprias lideranças trancaram a porta e não permitiram o ingresso de novos nomes. A legislação eleitoral foi feita sob medida para perpetuar a velharia. Segundo, porque os próprios jovens evitam se envolver no processo, com receio de se enlamear. E, terceiro: figuras novas, não na idade mas por não estarem no jogo há mais tempo, como foi o caso de Joaquim Barbosa, não se animam a enfrentar a partida e suas cartas marcadas. A situação é a mesma em todos os níveis. Responda depressa: nos últimos anos, qual foi o nome novo que surgiu no horizonte político capaz de despontar – olha o verbo aí – como atração na disputa presidencial deste ano, fora o de um ex-militar de discurso simplista de ódio, homofobia, misoginia, armamentismo e admiração aos torturadores do regime militar? Depois dele tem Ciro, Marina, Alvaro, Alckmin, Meirelles, figurinhas surradas como um certo Lula, do período pré-cabralino, que, lá do xilindró, segura a crença dos fiéis de sua seita que ainda acreditam em miragens. Como se não bastasse, nos poucos lugares onde poderia haver alguma renovação, o PT se alia às velhas lideranças, como na rifada que deu na candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco, para garantir o apoio de caciques pré-colombianos. Y así pasan los dias, verdad?
O futebol se renova. Mas o “politicol” é o mesmo
Por isso, toda vez que alguém coloca a faca nos peitos do colunista e lembra que, por morar em Brasília e circular pelos palácios e conversar com os homens, ele tem obrigação de saber o que vai acontecer, o jeito é dizer que pode acontecer tudo, inclusive nada e, se nem isso der certo, pode acontecer sabe-se lá o quê ou mesmo o que não se sabe. Ou não.
O futebol mundial evoluiu muito mais do ponto de vista da renovação do que a política brasileira. As tradicionais Itália e Holanda, dois “sarneys” bem jurássicos, sequer embarcaram pra Rússia. Equipes tradicionais como um tal de Brasil, ao lado de outros mastodontes como Argentina, Inglaterra e Uruguai, ficaram pelo caminho. A pequerrucha Bélgica cresceu, despontou. E a recém-nascida Croácia – quem diria? – foi pra final. Ora, se nenhum analista esportivo imaginou uma final com um nível tal de renovação como o que trouxe a Croácia pra final, não é preciso se envergonhar por não saber prever o que vem por aí no plano político.
Por isso, repitam comigo, crianças:
- Eu não sei, tu não sabes, ele não sabe. Nós não sabemos, vós não sabeis e o pior é que eles também não sabem.
Paulo José Cunha é professor, jornalista e escritor.
Fonte: https://congressoemfoco.uol.com.br
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