Header Ads

Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, é acusado de abuso de menores

O filho dele, Saul Klein é investigado por estupro de mais de 30 mulheres
Ciro Barros, Clarissa Levy, Mariama Correia, Rute Pina, Thiago Domenici, Andrea DiP
As acusações não reveladas de crimes sexuais de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia

Pública conta agora a história oculta do fundador da Casas Bahia , Samuel Klein, falecido em 2014. Conhecido como “ o rei do varejo ”, Klein teria usado seu poder como empresário bem-sucedido para manter durante décadas um esquema de aliciamento de crianças e adolescentes para a prática de exploração sexual dentro da icônica sede da empresa, em São Caetano do Sul, além de outros locais em Santos, São Vicente, Guarujá e Angra dos Reis. Mas a história desses crimes não envolve apenas o patriarca da família Klein. Seu filho Saul Klein é hoje investigado por aliciamento e estupro de mais de 30 mulheres. Segundo o relato de fontes e dezenas de mulheres entrevistadas, há semelhanças na forma de agir de pai e filho . Os detalhes você lê a seguir.

Uma biografia oculta

Uma história de violência sexual na infância marcou para sempre a trajetória de Karina Lopes Carvalhal, hoje com 40 anos. Conforme relatou à reportagem, aos 9 anos, ela soube pelas irmãs que um grande empresário de sua cidade natal, São Caetano do Sul (SP), dava dinheiro e presentes a menores de idade que fossem à sede da empresa na av. Conde Francisco Matarazzo, número 100. À época com 12 anos, a irmã mais velha de Karina avisou que ela poderia conseguir um tênis novo se fosse até lá. Animada, ela topou. “Eu não tinha um tênis pra pôr, usava o das minhas irmãs, meus dedos eram todos tortos.” 

Karina subiu até o andar da presidência e lembra que esperou algum tempo até ser chamada ao escritório particular do dono. Quando ele surgiu, ela ficou surpresa ao ver um senhor de idade já na casa dos 70 anos, que pediu que ela se aproximasse. “Minha irmã tinha me dito: ‘Ká, não se assuste porque ele vai te dar um beijinho’. Mas ele me cumprimentou e já passou a mão nos meus peitos. Ele dizia: ‘Ah, que moça bonita. Muito linda’”, ela relembra, imitando o sotaque polonês do empresário Samuel Klein, fundador da Casas Bahia. Ao sair dali, ela conta que sentiu alívio, levando consigo uma quantia em dinheiro e um tênis da marca Bical. Era 1989.

“A gente ficava contente que tinha ganhado um tênis. Não tínhamos noção dessa situação de violência”, avalia Karina ao falar com exclusividade à Pública sobre a história de sofrimento pessoal que guardou durante tanto tempo. Ela diz que a possibilidade de conseguir outros bens materiais a fez voltar nas semanas seguintes ao encontro de Samuel.

Mas nas novas visitas, de acordo com Karina, as situações de exploração sexual ganharam escala e viraram rotina. “A segunda vez, ele já me levou pro quartinho.” Ela conta que o empresário mantinha um quarto anexo ao seu escritório, onde havia uma cama hospitalar. Era ali que ocorriam os abusos. Ainda segundo Karina, foi ali que ela foi violentada sexualmente pela primeira vez aos 9 anos.

Não demorou para que Karina largasse os estudos na Escola Professora Eda Mantoanelli, em São Caetano do Sul. “Como meu pai me batia muito, eu ia matar aula e tinha que ficar em algum lugar.” E, na rua, Karina virou dependente química de crack e fez uso da substância por uma década, até engravidar da primeira filha, aos 19 anos. 

Karina não sabe precisar, mas estima que a relação de dependência emocional e financeira por meio da exploração sexual exercida por Samuel foi de 1989 até meados dos anos 2000. “Eu vejo agora que eu não tive estudo, não tive infância, não tive meios, não tive ninguém pra cuidar de mim. Se uma pessoa tira a sua infância, seus estudos, a sua casa, você fica sem chão.” 

Karina não teria sido a única a ser aliciada e explorada sexualmente por Klein. A Pública ouviu mais de 35 fontes, entre mulheres que o acusam de crimes sexuais, advogados e ex-funcionários da Casas Bahia e da família, consultou processos judiciais e inquéritos policiais, teve acesso a documentos, fotos, vídeos de festas com conotação sexual e declarações de próprio punho das denunciantes, além de gravações em áudio que indicam que, ao menos entre o início de 1989 e 2010, Samuel Klein teria sustentado uma rotina de exploração sexual de meninas entre 9 e 17 anos dentro da própria sede da Casas Bahia, a icônica loja no centro de São Caetano do Sul, e em imóveis de sua propriedade situados na Baixada Santista e no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O empresário teria organizado um esquema de recrutamento e transporte de meninas, com uso de seus helicópteros particulares, que teria contado até mesmo com a participação de seus funcionários, para festas e orgias acobertadas com pagamentos às meninas e familiares com dinheiro e produtos das lojas espalhadas pelo país. 

Foi a partir das denúncias mais recentes envolvendo o filho do patriarca da família Klein, o empresário Saul Klein, investigado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) por aliciamento e estupro de dezenas de mulheres , que a reportagem foi atrás do passado de Samuel e encontrou indícios semelhantes às práticas descritas pelo MP na investigação sobre seu filho, na qual algumas mulheres também alegam terem sido violentadas quando menores, história que contaremos adiante.

Segundo os relatos, Samuel Klein abafou os crimes firmando acordos judiciais, hoje arquivados sob sigilo nos escaninhos do Judiciário, com as denunciantes que buscaram indenizações depois de adultas. O fundador da Casas Bahia ainda teria se beneficiado da morosidade de ao menos três inquéritos criminais abertos para apurar crimes dessa natureza, nos quais se esquivou das citações judiciais, sem que fossem tomadas medidas mais enfáticas pela Polícia Civil ou pelo MP-SP, até levá-los à prescrição. Tais manobras teriam contribuído para que ele mantivesse a imagem de herói do mundo dos negócios. Até agora. 

No rastro das denúncias 

Quando morreu, em novembro de 2014, Klein deixou uma imagem quase heroica entre o empresariado e boa parte da sociedade brasileira. Sua história de vida ressoa o mito do self-made man , tão incensado no mundo corporativo. Nascido na Polônia em 1923, ele viveu a ocupação nazista em sua terra natal, foi levado ao campo de concentração de Majdanek aos 19 anos e teve a mãe e cinco irmãos assassinados no campo de Treblinka. Samuel conseguiu fugir do campo de concentração e, nos anos 1950, emigrou para o Brasil, onde começou a vender produtos de porta em porta empurrando uma charrete em São Caetano do Sul. Lá, ele fundou a primeira loja da empresa, que nas décadas seguintes se tornaria uma das maiores redes varejistas do país. Hoje, a rede é parte do conglomerado Via Varejo, grupo que tem faturamento médio anual de R$ 30 bilhões. Samuel virou nome de rua na cidade onde se estabeleceu e até hoje é visto como um dos maiores figurões do mundo dos negócios da história do Brasil. 

No rastro das denúncias, a Pública consultou sete processos cíveis e criminais em que mulheres denunciam Samuel por abusos sexuais. A reportagem teve acesso também a quatro processos de outras mulheres que afirmam ser vítimas e pedem indenização por danos morais. Além dos 11 processos consultados, a apuração revelou mais oito processos, arquivados em sigilo, com alegações de abusos sexuais contra o empresário. 

Em geral, são processos movidos por mulheres após terem atingido a maioridade. Segundo seus relatos, ao entenderem o que viveram, essas mulheres buscaram indenizações na Justiça porque não havia mais a possibilidade de Samuel responder criminalmente devido à prescrição criminal. A maioria dos casos encontrados são ações movidas por danos morais e materiais de mulheres que relatam cenas terríveis que teriam ocorrido em diferentes momentos da infância e adolescência. 

É o caso de Renata*, que no seu processo contra o empresário afirma ter sido estuprada quando tinha 16 anos. Do Rio Grande do Sul, Renata morava desde os 14 anos em São Paulo com uma modelo, que chamaremos de Daniela*. A colega de quarto era maior de idade, frequentava as residências de Samuel e teria recebido vários presentes dele, incluindo um apartamento. 

Renata contou à polícia que em outubro de 2008 foi à casa de praia do empresário em Angra dos Reis. Ela teria viajado com Samuel e seu piloto particular no helicóptero do empresário. À noite, foi chamada para uma conversa no chalé que o fundador da Casas Bahia ocupava. Do lado de fora havia aproximadamente 12 seguranças. Dentro, um enfermeiro teria acabado de aplicar uma injeção de Viagra no empresário, que na época tinha 85 anos. 

No depoimento, Renata disse que Samuel fez várias promessas de ajuda financeira, incluindo estudos em uma boa escola, apartamento e carro, em troca de sexo. Ela teria resistido. “Ele me pegou à força, rasgou minha roupa e me violentou. Não adiantava gritar. Eu chorei e fiquei sangrando direto na quarta e quinta-feira”, diz um trecho do depoimento. 

Renata contou à polícia que o mesmo enfermeiro que aplicou o estimulante sexual no empresário prestou assistência por causa do sangramento, mas ela foi mantida presa em Angra, impedida de ir ao médico e de voltar a São Paulo. Mesmo sangrando, ela teria sido novamente estuprada, dois dias depois da primeira vez. Na época, Samuel Klein reconheceu, em depoimento à Polícia Civil de São Paulo, que Renata e Daniela estiveram na casa dele em Angra dos Reis, mas disse que as moças que frequentavam sua residência de praia “jamais fossem menores de idade”.

Pública buscou, ao longo dos últimos meses, contato com 26 mulheres que moveram processos judiciais, além de outras que não o processaram. Dez mulheres concederam entrevistas, a grande maioria sem revelar a identidade por medo de retaliação. Três entrevistadas, porém, concordaram em ter seu nome divulgados. Karina, do início da reportagem, foi uma delas. Também sua irmã, Vanessa Carvalhal, relatou como as duas teriam sido atraídas ainda crianças para o esquema de exploração sexual supostamente montado por Klein. Mas, segundo elas, não foram as únicas mulheres da família Carvalhal atingidas pelo empresário e contam que elas próprias atraíram outras mulheres ao mesmo martírio. A complexidade dessa história exigiu um capítulo à parte nesta investigação jornalística — Uma família acusa o fundador da Casas Bahia .

De origem socioeconômica vulnerável, as adolescentes geralmente ficavam sabendo por outras meninas que o empresário dava dinheiro e outros presentes, como cestas básicas, produtos da Casas Bahia, carros e até apartamentos para mulheres e menores de idade que fossem se encontrar com ele. 

Segundo os relatos, após um primeiro contato, que frequentemente já incluía abusos sexuais, elas eram selecionadas por Samuel para participar de festas do empresário em imóveis de sua propriedade. Aparecem nos relatos como palco dos crimes sexuais apartamentos no edifício Universo Palace, em Santos (SP), e na Ilha Porchat, em São Vicente (SP). Também as casas de veraneio em Guarujá (SP) e em Angra dos Reis, além de seu imóvel no condomínio de Alphaville, em Barueri (SP). 

Alguns funcionários próximos teriam participado ativamente. Segundo os relatos das mulheres, de funcionários, além dos registros nas ações judiciais, esse staff do empresário fazia a organização das viagens, recrutando menores de idade e mulheres adultas, levando cestas básicas às famílias e dividindo os grupos para transportá-las aos imóveis de Samuel. 

Nas festas, segundo os relatos, os abusos eram escancarados: ele recrutava o grupo que iria ao quarto e as submetia a sexo vaginal ou oral, muitas vezes sem uso de preservativos. Como no caso de Karina, a constante ida das adolescentes gerou dependência financeira e, segundo elas, dependência psicológica. “Parece que a gente tinha a obrigação de fazer [atos sexuais] porque ele tinha dado dinheiro no dia anterior”, diz Vanessa Carvalhal. A maioria das entrevistadas relata ter ficado por anos indo às festas e participando de sessões de exploração sexual, como sugerem as imagens — obtidas com exclusividade pela reportagem — de uma festa em que Samuel está rodeado de crianças e adolescentes em 1994. 

Testemunhas do suposto esquema

Mesmo sem nenhum contato anterior com as entrevistadas, 18 fontes confirmaram a existência de um esquema de aliciamento e abusos sexuais de Samuel durante a apuração do caso. Entre as fontes, estão seguranças, ex-funcionários, motoristas de táxi, assistentes pessoais de Samuel, advogados de mulheres que citam acordos extrajudiciais, vizinhos de prédio e lojistas que contam que Samuel oferecia produtos da empresa para as adolescentes de forma recorrente. Conforme os relatos, a liberação de dinheiro ou eletrodomésticos era centralizada pela secretária do empresário de São Caetano, mas ocorria em dezenas de filiais da Casas Bahia. 

Funcionários confirmaram os frequentes pagamentos em dinheiro e produtos às chamadas “samuquetes”, como eram apelidadas as “meninas do Samuel” — depoimentos de ex-funcionários da empresa confirmando a situação constam em condenações na Justiça do Trabalho. 

Josilene*, que foi gerente numa loja da Casas Bahia na Vila Diva, zona leste de São Paulo, entre 2005 e 2008, contou à Pública que tanto Samuel quanto Saul Klein usavam o caixa das lojas como parte dos pagamentos dessas meninas e mulheres. “De manhã tocava o telefone: ‘Aqui é da parte do dr. Samuel ou do dr. Saul, e precisa separar tanto pro final do dia’. Então a gente ia no caixa, conversava, e as caixas iam separando o que entrava em dinheiro. E no final as meninas passavam e retiravam os valores.” 

A ex-gerente conta que em 2008 presenciou essa situação com mais frequência: “Ou era na quarta ou era na quinta que elas passavam.” Eram meninas de diversas regiões. As que vinham lá eram umas três quatro por semana, na faixa aí dos 16, 17 anos. Eram menores.” 

Josilene sabia o motivo do pagamento, explica que era do conhecimento geral do corpo de funcionários, mas que nada podiam fazer. “Era constrangedor. A gente seguia ordens.” Segundo ela, “as meninas tinham direito de escolher o que elas queriam na loja. Na época, como era menina nova, pegava muito celular, som, televisão. Às vezes a mãe ia junto pra escolher”. 

Josilene chama atenção para um detalhe confirmado por diversas fontes, informação que também consta em processos na Justiça: mulheres adultas e adolescentes chegavam às lojas munidas de bilhetes, escritos supostamente por Samuel Klein, em que ele dava autorização para a retirada de produtos e dinheiro.

Em 2010, por exemplo, as Casas Bahia foi condenada em diversas ações trabalhistas movidas por funcionários de lojas no Sul do Brasil. Em sete delas, os funcionários alegaram danos morais em razão de situações vexatórias vividas no trabalho. Eles descrevem que frequentemente tinham que pagar mulheres que apareciam nas lojas cobrando dinheiro e mercadoria e que, geralmente, traziam consigo esses bilhetes com ordens de pagamento de Samuel. 

Testemunhando a favor da ex-funcionária da Casas Bahia Rosineiva Freitas da Silva, que entrou com um processo trabalhista contra a empresa, a lojista Jacqueline Souza afirmou que ela e a colega “eram obrigadas a entregar dinheiro a moças bonitas que iam na loja porque eram pessoas enviadas pelo Sr. Samuel para receber dinheiro ou mercadorias”. 

Também a ex-funcionária Suzana Morcelli, que processou a empresa, em que trabalhou entre 2004 e 2009, confirma os pagamentos. “As garotas iam às lojas e pegavam os pagamentos tanto em dinheiro vivo quanto em mercadoria. E não eram valores pequenos. Lembro de uma que falou: ‘O que vocês demoram o mês todo para receber, nós ganhamos em uma hora’”, diz em entrevista à Pública . Josilene confirma. “Na loja da Vila Diva, elas chegavam a receber 3 mil cada uma.” 

Suzana foi também testemunha de um processo trabalhista movido pela ex-colega Nária de Souza Martins em 2010. Ela confirma a informação. Em seu processo, Nária afirmou que “por diversas vezes, foi constrangida perante os demais colegas da empresa ao ter de entregar dinheiro a mulheres desconhecidas, por ordens expressas do proprietário da empresa, Sr. Samuel Klein” e “que mulheres chegavam na loja com bilhetes assinados pelo proprietário da empresa ou sem estes, e exigiam a entrega de valores altíssimos, em moeda corrente, dizendo que se a reclamante demorasse a conseguir os valores seria imediatamente despedida, pois tinham autorização expressa do Sr. Samuel Klein para tanto”. 

Segundo os relatos, o esquema era de tal forma estruturado que Samuel tinha funcionários e prestadores de serviço que trabalhavam para garantir que ele tivesse acesso a crianças e adolescentes para praticar exploração sexual. “Parece que ele vivia para isso. Ele recebia meninas várias vezes por semana, o mês inteiro”, conta à Pública um segurança que trabalhou para a família Klein por 19 anos. 

Os relatos das mulheres e de alguns ex-funcionários apontam para Lúcia Amélia Inácio, secretária pessoal que trabalhava na sede da Casas Bahia, como uma das principais organizadoras do suposto esquema. Lúcia é citada na biografia autorizada do empresário, escrita por Elias Awad , como “fiel enfermeira e responsável pelo departamento de benefícios” da Casas Bahia. 

Segundo o texto, Lúcia foi “contratada em 1973 como enfermeira da unidade médica montada por Samuel em São Caetano para atender os funcionários”. “Lúcia passou a ser a enfermeira exclusiva de Samuel, preocupando-se e cuidando de tudo — dos remédios à dieta”, diz o texto. No relato das entrevistadas e de ex-funcionários, Lúcia é apontada como a responsável por convidar as meninas escolhidas por Samuel para as viagens, fazer pagamentos e doações de cestas básicas a mulheres e familiares e até participar de algumas das festas promovidas nos imóveis de Samuel.

Pública apurou também que o empresário teria a seu serviço duas agenciadoras na Baixada Santista. Uma delas é Káthia Lemos, apontada por ao menos seis mulheres como uma “aliciadora de meninas” do empresário. 

Em conversa com a reportagem, a comerciante de 53 anos conta que tinha 13 quando começou a trabalhar para Samuel Klein, fazendo serviços diversos. Káthia negou que fizesse agenciamento de mulheres e meninas para “o rei do varejo”. Disse que sua função era oposta: “despistar as moças” que ele não queria mais encontrar, mas que insistiam em participar dos encontros em troca de dinheiro. “Se deixasse, elas invadiam a casa dele. Era necessidade, né? Elas precisavam.”

A ex-funcionária de Samuel disse conhecer “mais de 100 mulheres, de vários estados brasileiros, que frequentavam os encontros” com o empresário. “Não tinha menor de idade”, diz. “Algumas mentiam a idade dizendo ter 18 anos para agradá-lo. Era a fantasia dele. Ele gostava de meninas novas. Tinha uma menina menor de idade que ia com a mãe, mas ele nunca tocou a mão nela.” 

Mas Káthia admitiu que o empresário tentou fazer sexo com ela própria quando ainda era adolescente. “Eu nunca deitei com ele. Um dia ele tentou, mas falei: ‘Você nunca mais faz isso. Eu tinha de 13 para 14 anos e já trabalhava pra ele. E ele nunca mais tentou nada.”

Káthia aparece em fotos no iate e na piscina da casa de Samuel em Angra dos Reis. Ela aparece também em um vídeo de uma festa de aniversário do empresário que ocorreu em 11 de novembro de 1994 em uma casa em Guarujá. Na ocasião, Samuel agradece à Káthia o esforço em organizar o evento e a “amizade” de longa data. “Eu só posso agradecer especialmente a vocês três [indicando Káthia e outros dois seguranças] por fazer essa festa maravilhosa para 150 amigas minhas”, discursa. O vídeo mostra cenas do aniversário em que é possível ver mais de 50 meninas na festa. Há cenas que mostram as meninas assistindo a uma apresentação de dança erótica, brindando o aniversário do empresário e abraçando-o dentro da piscina. O vídeo contém também um depoimento de Káthia agradecendo a amizade de Samuel. Mulheres ouvidas pela reportagem apontam que foi a agenciadora quem organizou e recrutou as meninas para a festa. 

Diante dos relatos, a reportagem procurou novamente Káthia Lemos. Por telefone, ela disse “que não iria mais falar nada”.

Trechos em VHS com áudio original obtidos com exclusividade pela Pública mostram uma festa em 1994 dedicada a Samuel Klein, organizada por Kathia Lemos e outros funcionários. A festa contou com mais de “150 amigas” do empresário

Diversos relatos obtidos pela reportagem apontam que taxistas, motoristas e as próprias mulheres também faziam parte da engrenagem de exploração sexual sistemática de adolescentes pelo fundador das Casas Bahia. Muitas mulheres relatam que ele tinha preferência por virgens e havia um estímulo financeiro para quem as trouxesse. “Quando ele perdia o interesse, a gente levava uma menina mais nova pra encantar mais ele, entendeu? Ele dava mais dinheiro pra gente, poderia pegar mais coisa: um armário, uma TV. Aí a gente estourava”, afirma Karina Carvalhal. “Eu, com 15, levei a minha irmã porque ele perdeu o interesse em mim… Aí ele me dava de tudo”, confirma a irmã de Karina, Vanessa.

Os depoimentos sugerem que Samuel aproveitava a situação vulnerável de famílias empobrecidas e se colocava como “benfeitor”, criando uma lógica que, ao misturar abusos e recompensas financeiras, prendia as vítimas ao esquema criminoso. “Tinham as meninas que sustentavam as mães com esse dinheiro, porque não tinham nada, moravam em favela”, contou uma mulher, que não quis se identificar, que teria frequentado por seis anos as propriedades do empresário e testemunhou dezenas de abusos. 

Uma ex-funcionária, que também pediu que sua identidade fosse omitida, disse à reportagem que cruzava com as “meninas do Klein” a caminho do elevador toda semana na sede em São Caetano. “Nunca vi nenhuma sozinha, iam sempre em bandos de três, acompanhadas por seguranças”, diz. A funcionária e os dois seguranças entrevistados relatam que muitos funcionários da empresa sabiam e que, apesar de gerar comentários, a situação era tratada com normalidade.

As entrevistadas e outras fontes contam ainda que o empresário era tratado por todos como homem bom e generoso, que “ajudou muita gente”. Os relatos apontam que em seu modus operandi Samuel escondia a violência de seus atos nas recompensas vultosas que oferecia, situação similar à denunciada por mulheres contra seu filho Saul Klein. 

Apesar do sofrimento, muitas delas não se davam conta da magnitude do abuso que sofriam e não viam caminhos para denunciar. Não é possível saber ao certo o número de mulheres que estiveram sujeitas ao esquema, dado que os referidos abusos teriam ocorrido por décadas e em diferentes localidades. Um dos seguranças da família exemplifica: “Teve uma vez que o Samuel passou uma semana em Angra e foi uma coisa de louco. O helicóptero ia e voltava trazendo meninas, todo dia várias vezes”. Segundo ele, nessa semana do ano de 2009 ele ajudou a desembarcar cerca de 70 garotas do helicóptero na mansão de Angra dos Reis. A aeronave, segundo o relato, seria um Agusta AW139, com capacidade para dez pessoas. Um helicóptero desse modelo foi comprado pela Casas Bahia em outubro de 2008, segundo documentação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Nos relatos, aparece também referência à quantidade de meninas presentes nas festas e na sede da empresa. “Eram umas 40 meninas, todas da minha idade”, afirma Vanessa Carvalhal, sobre a primeira “festa” com Samuel, no edifício Universo Palace, na década de 1990. “Você chegava lá e era coisa de ter seis, sete meninas esperando para entrar. Entrava uma e saía outra. A maioria era novinha, mas havia mais velhas também”, afirma outra mulher, ouvida sob anonimato, falando a respeito dos encontros na sede da Casas Bahia.

Comprando o silêncio

Em 2008, quando tinha 14 anos, Francielle Wolff Reis foi convidada por uma conhecida para visitar o famoso fundador da Casas Bahia. Como teria ocorrido com outras meninas, soube que Samuel dava lanches e presentes para as meninas que o visitavam em seu escritório em São Caetano. Não fazia ideia de que seria explorada sexualmente por ele. Hoje adulta, Francielle conta sobre o trauma que carrega. “Samuel colocou um pacote de dinheiro em cima da mesa e perguntou: ‘Você quer?’.” 

Conforme o relato, o empresário prometeu que entregaria o bolo de notas se a adolescente se submetesse a sexo com ele, à época com 85 anos. Acuada, Francielle foi levada ao quartinho anexo ao escritório do empresário na sede da Casas Bahia. Segundo consta em seu processo, com muito medo de dizer não, ela foi submetida a sexo vaginal. 

A partir desse dia, a adolescente se viu imersa em uma rotina de exploração sexual em troca de pagamentos e presentes. Francielle conta que sofria, se sentia suja, culpada, mas tinha medo de contar para a mãe e vê-la cair em depressão. Por cerca de um ano e meio, a menina teria frequentado o escritório de Samuel de duas a três vezes por semana. Ia no período da tarde, quase sempre levada pelo mesmo taxista que recebia o pagamento pelas corridas diretamente de um segurança contratado pela Casas Bahia. Em entrevista à Pública , o taxista, que falou sob sigilo, confirmou que fazia o transporte da menina e ressaltou: “Mas eu não era o único. Tinha muitos carros levando meninas lá, de tudo quanto é canto do ABC”. 

Ao longo do tempo, a mãe da garota começou a estranhar o comportamento da filha. “Percebi que tinha alguma coisa errada, de repente uma menina adolescente aparecer em casa com dinheiro, celular”, conta Amélia Pires dos Reis. 

Na época, ela se desdobrava em três empregos, trabalhando como doméstica, e acabava passando pouco tempo em casa. Mas a filha ficou tão estranha que a mãe resolveu buscar contato com Samuel Klein. Telefonou para o empresário e, segundo relata, ouviu dele que “Francielle era como uma neta que ele gostava de ajudar”. Pouco depois da ligação, Samuel mandou entregar em sua casa uma cópia de sua biografia e um DVD com uma reportagem que conta sua história de empreendedorismo. “Eu caí, pensei que ele era um homem bom, admirei ele ter superado a guerra. Nunca iria imaginar a verdade”, lamenta. 

Francielle continuou frequentando o escritório do empresário. Cinco vezes, viajou com ele e outras adolescentes para Angra dos Reis. Nessas viagens, segundo seu relato, as meninas eram submetidas a uma rotina de violências sexuais no iate em alto-mar ou no chalé da enorme propriedade cercada por seguranças armados. A Pública teve acesso a fotografias que revelam a presença de Francielle no iate que Samuel mantinha em Angra. 

Samuel repetia com a adolescente o mesmo padrão relatado por outras mulheres. Além do dinheiro, dava cupons para a retirada de produtos, como sugerem duas notas fiscais da Casas Bahia que, expedidas em nome de Francielle, somavam o valor de R$ 1.154, em maio de 2009, quando a menina tinha 15 anos. 

Quando sentia falta da menina, o empresário telefonava para a vizinha da garota, solicitava a presença de Francielle e enviava um táxi para buscá-la. Em entrevista, a vizinha Claudelice Alves de Freitas contou que recebeu cerca de seis ligações de Samuel pedindo para ver Francielle, a quem se referia como “neta”. Como relatado pela mãe, com o passar dos meses, a violência persistia e desestruturou a adolescente. No início de 2010, Amélia decidiu ir até o escritório do empresário e conversar com ele. 

“Quando eu cheguei lá, num táxi mandado por ele que levava também outra menina, acharam que eu era uma agenciadora e me levaram para a entrada lateral. No momento que entrei no elevador e vi tanta menina, me perguntei se estava em uma empresa ou numa casa de prostituição. Aí foi que entendi tudo.” Chegando Amélia ao escritório, Samuel ofereceu dinheiro para que ela não o denunciasse, contou. 

“Daí por diante a minha vida se tornou um inferno.” Ela relata que começou a ser perseguida por funcionários de Samuel, que ofereciam dinheiro e imóveis. Francielle adoeceu psicologicamente e deixou de frequentar a escola. Pouco tempo depois, a própria mãe chegou a tentar suicídio. Claudelice, a vizinha que atendia as ligações de Samuel e acudiu Amélia no dia da tentativa, resume: “A família ficou destruída”. 

Apesar dos traumas e das ligações de representantes de Samuel oferecendo dinheiro, Amélia relata que não aceitou o silêncio e foi até a Delegacia da Mulher de Carapicuíba fazer a denúncia. Ela conta também que prestou depoimento e teve seu testemunho registrado em um inquérito que não andou. “Fiquei nove horas esperando na delegacia para depor e depois nunca mais soube notícias.” A Pública tentou acesso ao inquérito supostamente originado em sua denúncia, mas o documento está arquivado sob sigilo.

“Gostava mais de menininha”

Cláudia* tinha 20 anos quando participou pela primeira vez de um jantar com Samuel na sede da Casas Bahia. Era 2008. Na época, ela estava afastada da família, que mora em Osasco, para cursar faculdade em São Paulo. Sem nenhuma ajuda financeira, o salário-mínimo que recebia no comércio era pouco para cobrir o aluguel e as despesas do curso.

“Disseram que eu ia jantar e fazer companhia, carinho nele”, conta. A proposta foi feita por um homem de cujo nome ela não se lembra. O encontro teria ocorrido no andar da presidência da loja, onde havia o quarto em que Samuel Klein passava parte do tempo. 

Ao chegarem lá, táxis trazendo as meninas e mulheres eram imediatamente direcionados para o estacionamento da presidência, onde os seguranças pessoais recebiam as pessoas. Cláudia diz que nunca fez sexo por dinheiro e que somente quando chegou no local se deu conta da natureza do encontro. “Eu fiquei em choque. Me senti encurralada. Uma vez que está lá, sente como se não tivesse mais como recuar.” 

Depois da refeição, ela contou que Samuel conversou com as participantes sobre seus interesses, estudos e dificuldades financeiras. “Era como uma seleção.” A partir da conversa, o empresário convocava suas preferidas para o quarto, e ela foi chamada. “Me senti suja, com nojo e vergonha. Saí de lá chorando. Você nunca pensa que vai fazer algo assim porque é uma situação de humilhação compartilhada com outras pessoas. Eu via outras mulheres sendo humilhadas ali. O que me atraiu foi o dinheiro, foi o que me fez voltar”, revela. 

De acordo com Cláudia, os encontros tinham método. Seguranças pessoais do empresário interceptavam os carros que conduziam as mulheres. Quem agendava as visitas e fazia os pagamentos era Lúcia Amélia, citada novamente como a responsável pela organização que incluía a interlocução com agenciadores de garotas de programa, aliciadores de menores de idade e, quando necessário, a pessoa que fazia a aplicação de injeções com estimulante sexual no empresário. 

“Algumas dessas pessoas também forneciam mulheres para o filho dele, Saul”, comenta Cláudia, que também cita Káthia Lemos como aliciadora. 

Embora fosse maior de idade, Cláudia conta que foi orientada a dizer que tinha 17 para 18 anos para atender “o estilo de Samuel, que gostava mais de menininha”. Cláudia confirma que o empresário mantinha relações sexuais com adolescentes e crianças. “Ele era pedófilo, agia como um. Gostava de meninas com o corpo menos evoluído, que era meu caso. Então ele gostou de mim. A gente tinha que ficar mentindo porque ele gostava disso.”

Depois que parou de frequentar os encontros com Samuel, Cláudia mudou de cidade e de número de telefone. Disse que nunca mais fez programas ou foi procurada por ninguém dessa época, mas que até hoje carrega marcas psicológicas. “É algo que enterrei na minha vida. Já fiz tratamento de ansiedade. Tenho dificuldades nos meus relacionamentos, de confiar. Quando você conhece o lado sombrio do ser humano, desperta a sensação de não poder confiar em ninguém. Outro trauma que me acompanha é a necessidade de ser perfeita. Porque tinha um script a ser seguido para agradar ele. Você precisava ser perfeita, ser como um robô.” 

Cláudia relata que frequentou as várias residências de Samuel por três anos. Esteve nas casas de Alphaville, Santos e Angra dos Reis, e conta que os encontros aconteciam sempre com várias mulheres adultas e com a presença de adolescentes. “Todas as casas dele tinham espécie de kits prontos para esses encontros sexuais, como gel lubrificante ao lado da cama. Muitas usavam preservativo feminino escondido porque ele não gostava.” 

Fernanda*, outra mulher que frequentou a casa do empresário em Alphaville, na mesma época, entre 2008 e 2009, confirma que era obrigatório o sexo vaginal sem preservativos. “A ajudante passava lubrificante antes e dizia que matava tudo”, lembra. Para ela, chamava atenção a quantidade de garotas levadas para a casa do empresário no condomínio luxuoso. “Era no mínimo dois carros por dia. Em um dos dias que estive lá, quando eu e um grupo de meninas estávamos indo embora, vimos que a Káthia já havia chegado de Santos com outro carro cheio de meninas. Então eram dois, três carros por dia.” 

Como ela e todas as entrevistadas sustentam, Samuel preferia meninas menores de 18 anos. “O que ele gostava era de desvirginar mocinhas. Quando ele pegava uma menininha menor, mocinha, que era virgenzinha mesmo, nossa, ele enlouquecia. Dava carro pra família, fazia qualquer coisa”, conta. “Quando eu estive no quarto, a mulher que estava preparando as meninas mandou eu me tampar porque eu tinha estrias na barriga dizendo ‘tampa se não ele vai ver que você é velha’. Detalhe que eu tinha 18 anos”, afirma Fernanda. 

Para Angra de helicóptero

A mansão do empresário no condomínio Porto Bracuhy, em Angra dos Reis, é um dos endereços mais citados pelas mulheres que relataram os abusos. 

Ivan Marcelo Neves, morador do condomínio, contou que, no início dos anos 2000, nos finais de semana, o empresário distribuía dinheiro na porta de sua casa para os moradores do entorno e convidava algumas meninas para entrarem ou passearem em seu iate. As que aceitavam recebiam a proposta de fazer sexo com ele em troca de dinheiro e presentes.

Ivan recorda que os moradores dos bairros populares, vizinhos ao condomínio, se habituaram a receber dinheiro do empresário. “Era muito incômodo e também muito explícito. O pessoal comentava: ‘Hoje é dia de festa na casa do Samuel Klein”. E a guarita ficava liberada.” 

Além de Ivan, outras duas moradoras do bairro falaram com a reportagem, mas preferiram permanecer no anonimato. “Todo mundo daqui já sabia quando ele chegava, conhecia o helicóptero”, comenta uma delas. “Era quase toda sexta-feira um pessoal indo lá. E a notícia que corria era que ele gostava de meninas bonitas e novas”, diz a outra entrevistada. 

“Ele dava dinheiro à vontade, igual água, ninguém iria denunciar ele”, conta uma das moradoras do bairro vizinho à mansão do empresário em Angra. O fluxo de pessoas, que se juntavam em filas na porta da mansão de Klein, incomodava os vizinhos. Ivan Neves conta que em meados dos anos 2000 um dos condôminos chegou a fazer um Boletim de Ocorrência, denunciando o aliciamento de menores. 

“A questão é que ele fez a creche, pagou o muro da escola e dava muito dinheiro. Isso tudo fecha os olhos das pessoas”, lamenta uma das moradoras. Segundo relatos, perto de 2004 o empresário deixou de ajudar a comunidade com cestas básicas e parou de distribuir dinheiro na porta da mansão. “Aí teve um cala boca geral na cidade”, lembra Ivan.

Além das moradoras de Angra dos Reis, segundo o relato de uma pessoa ouvida pela reportagem, Samuel levava para sua mansão na praia adolescentes aliciadas em bairros de baixa renda de outros municípios de São Paulo, como Santos, São Vicente, Guarujá, Carapicuíba, São Caetano, e até de outros estados, muitos no Sul do país. 

Uma testemunha contou, em sigilo, que as viagens para a mansão eram feitas com a promessa de passeios de iate. Regularmente, o empresário levava de quatro a cinco meninas para o heliponto na cobertura da sede da Casas Bahia em São Caetano — segundo apontam ex-funcionários, mulheres entrevistadas e registros em processos judiciais. 

De lá, partiam para a mansão, onde a rotina se resumia a fazer as refeições com ele, ficar na piscina e passear no iate, onde eram submetidas a práticas sexuais em grupo com Samuel, enquanto a embarcação estava parada em alto-mar. “Ele falava da viagem para as favoritas, como um prêmio. Imagina, para uma menina que não tinha nada, a ideia de viajar de helicóptero e andar de iate chamava atenção”, comenta uma das fontes.

Em entrevista, uma das mulheres contou que ainda adolescente viajou várias vezes para a mansão e disponibilizou à Pública fotos das viagens. Em uma das imagens, aparece abraçada ao empresário em frente ao helicóptero Agusta A09 Power, pousado em Angra, em 1999. Além de usar o heliponto da empresa, a foto indica que Samuel utilizou a aeronave da Casas Bahia para transportar meninas para sua mansão. Segundo registro da Anac, o helicóptero fotografado havia sido registrado em nome da Casas Bahia em 1998. 

Fonte: www.ig.com.br

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.