Vídeo que trata de homofobia a adolescentes gera ira de deputado
deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ)
Um adolescente que tentava gostar de futebol para agradar o pai, mas nunca conseguiu se sair bem no esporte é o pano de fundo da narrativa do curta “Encontrando Bianca”, produzido por uma empresa para o Ministério da Educação (MEC). O vídeo, ainda em análise em uma comissão da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do MEC, fará parte de um kit (composto de mais outros dois vídeos e um guia de orientação aos professores) que será enviado a 6 mil escolas de ensino médio no ano que vem. A proposta do material é combater a homofobia nos colégios do País.
José Ricardo, o adolescente em questão, decide assumir uma nova personalidade. Ele se torna Bianca. No vídeo ao qual o iG teve acesso, afirma que as roupas, as brincadeiras e o universo masculino como um todo nunca se pareceram com o que sente ou gosta. A personagem conta que decidiu enfrentar o preconceito da família e dos colegas porque, por outro lado, recebe apoio de amigos e sonha se tornar uma professora e contribuir para um mundo melhor.
Exibido junto com os outros dois curtas para especialistas e parlamentares em seminário sobre o tema realizado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados há 15 dias, os filmes causaram a revolta do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Em sessão realizada no Plenário da Câmara dos Deputados após o seminário, Bolsonaro pediu que os parlamentares o ajudassem a impedir a circulação do material, que segundo ele seria distribuído e exibido a crianças com menos de 10 anos – o MEC diz que o público alvo são os alunos do ensino médio. Previu que os vídeos incentivariam os estudantes a se tornarem homossexuais, os descreveu de maneira diferente dos originais e afirmou sentir “asco e nojo” da Comissão de Direitos Humanos.
Veja o vídeo:
José Ricardo, o adolescente em questão, decide assumir uma nova personalidade. Ele se torna Bianca. No vídeo ao qual o iG teve acesso, afirma que as roupas, as brincadeiras e o universo masculino como um todo nunca se pareceram com o que sente ou gosta. A personagem conta que decidiu enfrentar o preconceito da família e dos colegas porque, por outro lado, recebe apoio de amigos e sonha se tornar uma professora e contribuir para um mundo melhor.
Exibido junto com os outros dois curtas para especialistas e parlamentares em seminário sobre o tema realizado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados há 15 dias, os filmes causaram a revolta do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Em sessão realizada no Plenário da Câmara dos Deputados após o seminário, Bolsonaro pediu que os parlamentares o ajudassem a impedir a circulação do material, que segundo ele seria distribuído e exibido a crianças com menos de 10 anos – o MEC diz que o público alvo são os alunos do ensino médio. Previu que os vídeos incentivariam os estudantes a se tornarem homossexuais, os descreveu de maneira diferente dos originais e afirmou sentir “asco e nojo” da Comissão de Direitos Humanos.
Veja o vídeo:
Bolsonaro já havia criado polêmica entre os deputados por ter afirmado, em evento sobre a Lei da Palmada, que se tivesse um filho gay, daria umas palmadas para corrigi-lo. No discurso em plenário, ele tornou a defender essa opinião. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara vai estudar providências contra o deputado, mas ainda não decidiu o que fazer. O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), André Lázaro, teme que as declarações do parlamentar reforcem a homofobia. “A defesa que ele faz da agressão é um absurdo. Lamento muito as declarações”, afirmou.
Situações reais
O secretário apresentou ao iG os curtas ainda inéditos, que não terminaram de ser avaliados internamente no ministério. Segundo Lázaro, as próprias organizadoras do material, contratadas pelo MEC em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, apresentaram os vídeos durante o seminário. Participavam do evento militantes de diferentes entidades que defendem o fim do preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e transgêneros. “Foi bom ter mostrado. Assim há muita gente para dizer que o material não tem nada de desrespeitoso”, pondera.
Os outros dois filminhos – que têm cerca de cinco minutos de duração – falam de outros temas relacionados à diversidade sexual. “Torpedo” conta a história de duas amigas que se apaixonam. Em uma festa, elas trocam carinhos (mãos no cabelo uma da outra, troca de olhares e sorrisos, um abraço mais carinhoso) e são fotografadas por colegas, que publicam as fotos na internet e fazem chacotas das duas. Elas decidem, então, assumir o que sentem. O vídeo termina com um abraço entre elas no pátio do colégio. Sem nenhum beijo (como descrito pelo deputado Bolsonaro).
O último, chamado de “Probabilidade”, mostra as dúvidas e conflitos vividos por um jovem de 15 anos, Leonardo. Quando se descobre vivendo o primeiro amor, o rapaz tem de mudar de cidade, por conta do trabalho do pai. Na nova morada, faz amizade com um menino que é muito atencioso com ele desde o primeiro dia de aula. Aos poucos, os dois se tornam amigos e viram alvos de piada, porque o amigo, chamado Mateus, é gay. Leonardo sabe disso, mas não se importa. Nunca houve nada entre os dois. Certo dia, eles vão a uma festa, e Mateus apresenta um primo a Leonardo. Os dois conversam a noite toda e descobrem afinidades. Na hora de ir embora, Leonardo sente vontade de beijar o rapaz e se espanta com isso, mas nada acontece. Já em casa, passa a noite pensando nos próprios sentimentos. No dia seguinte, durante a aula, observa o quanto também se sente atraído por uma amiga. Nesse instante, ele “percebe” que não quer lutar contra o que sente e acha que pode gostar de pessoas, independentemente do sexo.
“Queremos que a sociedade perceba que não podemos deixar ninguém fora da escola”, afirma o secretário. Ele explica que muitas crianças e adolescentes perdem o interesse pelos estudos por causa do preconceito sexual. O material foi desenvolvido pensando em dar oportunidade para os jovens discutirem o tema e os conflitos gerados por ele. Educadores concordam que o debate precisa ser feito nas salas de aula de todo o País com urgência, mas defendem que só o material não adianta. “É preciso garantir formação continuada para esses professores”, destaca Angela Soligo, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Polêmica necessária
Para Angela, as histórias refletem situações vividas todos os dias nas escolas brasileiras. Por isso, considera uma decisão acertada falar sobre elas no ensino médio. Com as crianças, ela acredita que o debate sobre a homofobia também deve acontecer, mas sob a perspectiva de que todos merecem respeito, independentemente se são diferentes ou iguais às crianças. “Há meninas namorando com meninas nas escolas, meninos que assumem uma personalidade feminina e querem usar o banheiro delas. É importante discutir isso na escola. Essas pessoas estão sofrendo com as próprias dificuldades e os preconceitos dos colegas”, adverte.
Angela ressalta que a escola precisa fazer com que a discriminação não permaneça naturalizada. O material é uma boa estratégia para abordar o assunto, mas os professores têm de estar atentos para não reproduzir os próprios preconceitos. Nos últimos cinco anos, o MEC realizou capacitação para tratar de temas de gênero e raça com 70 mil professores.
Os casos de violência contra homossexuais cada vez mais constantes tornam o tema diversidade sexual ainda mais urgente nos currículos, na avaliação da professora e doutora na área Claudia Bonfim, que é pesquisadora da Unicamp. “As pessoas precisam entender, primeiro, que a homossexualidade não é uma escolha. É fruto da genética, da educação e da cultura que receberam ou resultado das relações que nem elas têm consciência. Só assim passarão a respeitar essas pessoas”, pondera.
Claudia defende que a educação sexual seja inserida formalmente nos currículos das escolas, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, assim como no das licenciaturas e pedagogia. “Não há uma disciplina obrigatória sobre esse tema na formação dos professores. Eles não estão preparados para lidar com ele. E a educação sexual precisa transcender o caráter biológico da sexualidade”, ressalta. Para ela, a produção de materiais para os alunos também é importante. “Não há um material sequer sobre o tema”, critica.
Situações reais
O secretário apresentou ao iG os curtas ainda inéditos, que não terminaram de ser avaliados internamente no ministério. Segundo Lázaro, as próprias organizadoras do material, contratadas pelo MEC em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, apresentaram os vídeos durante o seminário. Participavam do evento militantes de diferentes entidades que defendem o fim do preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e transgêneros. “Foi bom ter mostrado. Assim há muita gente para dizer que o material não tem nada de desrespeitoso”, pondera.
Os outros dois filminhos – que têm cerca de cinco minutos de duração – falam de outros temas relacionados à diversidade sexual. “Torpedo” conta a história de duas amigas que se apaixonam. Em uma festa, elas trocam carinhos (mãos no cabelo uma da outra, troca de olhares e sorrisos, um abraço mais carinhoso) e são fotografadas por colegas, que publicam as fotos na internet e fazem chacotas das duas. Elas decidem, então, assumir o que sentem. O vídeo termina com um abraço entre elas no pátio do colégio. Sem nenhum beijo (como descrito pelo deputado Bolsonaro).
O último, chamado de “Probabilidade”, mostra as dúvidas e conflitos vividos por um jovem de 15 anos, Leonardo. Quando se descobre vivendo o primeiro amor, o rapaz tem de mudar de cidade, por conta do trabalho do pai. Na nova morada, faz amizade com um menino que é muito atencioso com ele desde o primeiro dia de aula. Aos poucos, os dois se tornam amigos e viram alvos de piada, porque o amigo, chamado Mateus, é gay. Leonardo sabe disso, mas não se importa. Nunca houve nada entre os dois. Certo dia, eles vão a uma festa, e Mateus apresenta um primo a Leonardo. Os dois conversam a noite toda e descobrem afinidades. Na hora de ir embora, Leonardo sente vontade de beijar o rapaz e se espanta com isso, mas nada acontece. Já em casa, passa a noite pensando nos próprios sentimentos. No dia seguinte, durante a aula, observa o quanto também se sente atraído por uma amiga. Nesse instante, ele “percebe” que não quer lutar contra o que sente e acha que pode gostar de pessoas, independentemente do sexo.
“Queremos que a sociedade perceba que não podemos deixar ninguém fora da escola”, afirma o secretário. Ele explica que muitas crianças e adolescentes perdem o interesse pelos estudos por causa do preconceito sexual. O material foi desenvolvido pensando em dar oportunidade para os jovens discutirem o tema e os conflitos gerados por ele. Educadores concordam que o debate precisa ser feito nas salas de aula de todo o País com urgência, mas defendem que só o material não adianta. “É preciso garantir formação continuada para esses professores”, destaca Angela Soligo, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Polêmica necessária
Para Angela, as histórias refletem situações vividas todos os dias nas escolas brasileiras. Por isso, considera uma decisão acertada falar sobre elas no ensino médio. Com as crianças, ela acredita que o debate sobre a homofobia também deve acontecer, mas sob a perspectiva de que todos merecem respeito, independentemente se são diferentes ou iguais às crianças. “Há meninas namorando com meninas nas escolas, meninos que assumem uma personalidade feminina e querem usar o banheiro delas. É importante discutir isso na escola. Essas pessoas estão sofrendo com as próprias dificuldades e os preconceitos dos colegas”, adverte.
Angela ressalta que a escola precisa fazer com que a discriminação não permaneça naturalizada. O material é uma boa estratégia para abordar o assunto, mas os professores têm de estar atentos para não reproduzir os próprios preconceitos. Nos últimos cinco anos, o MEC realizou capacitação para tratar de temas de gênero e raça com 70 mil professores.
Os casos de violência contra homossexuais cada vez mais constantes tornam o tema diversidade sexual ainda mais urgente nos currículos, na avaliação da professora e doutora na área Claudia Bonfim, que é pesquisadora da Unicamp. “As pessoas precisam entender, primeiro, que a homossexualidade não é uma escolha. É fruto da genética, da educação e da cultura que receberam ou resultado das relações que nem elas têm consciência. Só assim passarão a respeitar essas pessoas”, pondera.
Claudia defende que a educação sexual seja inserida formalmente nos currículos das escolas, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, assim como no das licenciaturas e pedagogia. “Não há uma disciplina obrigatória sobre esse tema na formação dos professores. Eles não estão preparados para lidar com ele. E a educação sexual precisa transcender o caráter biológico da sexualidade”, ressalta. Para ela, a produção de materiais para os alunos também é importante. “Não há um material sequer sobre o tema”, critica.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao