O poder dos pais na escolha profissional dos filhos
Especialistas mostram como agir de maneira correta para orientar os filhos na carreira, sem impor a própria vontade a eles
Foto: Amana Salles/Fotoarena
Leandro seguiu os passos do pai Eurides, camiseiro, por conta própria
Leandro seguiu os passos do pai Eurides, camiseiro, por conta própria
Ainda hoje, muitos pais desejam que os filhos sigam a mesma profissão deles. Esta é uma maneira que encontram para se sentir realizados e reconhecidos pelos seus descendentes. O problema maior acontece quando esta vontade passa a ser uma fixação e, o pior, vira pressão para que o jovem trilhe um determinado caminho. “Os pais devem aprender a escutar o filho, a respeitar sua escolha e entender que ele só será bem sucedido na profissão que realmente gostar”, explica a psicóloga Nancy Erlach Danon, especialista na área na área cognitiva-comportamental.
Por outro lado, há pais que não conversam com os filhos sobre carreira ou não demonstram interesse em saber o que eles estão planejando para o futuro. O psicólogo Fabiano Fonseca da Silva, do Serviço de Orientação Profissional da USP, acredita que o tema profissão deve ser inserido na família “desde sempre”. É importante perguntar para a criança o que ela quer ser quando crescer e, especialmente na adolescência, conversar claramente com o filho sobre o assunto, para que ele perceba que tem um suporte familiar para decidir.
O ideal é que os pais prestem uma espécie de “consultoria” aos filhos, para orientar sem influenciar, mostrando os prós e os contras das carreiras cogitadas. Isso pode se mostrar um desafio quando você é um apaixonado pelo seu trabalho ou se tem algumas frustrações com a carreira. Por isso, se for preciso, vale levá-los a testes vocacionais ou apresentá-los a profissionais de diversas áreas, para que possam sentir as distintas realidades do mercado de trabalho.
Conheça algumas histórias de pais que incentivaram os filhos a optar pela mesma carreira – ou o oposto – e outros que não opinaram e deixaram os jovens à vontade para decidir qual profissão seguir. E aprenda as lições de cada um delas.
Camiseiro segue o ofício do pai, mesmo sem ter recebido qualquer incentivo
A rotina do camiseiro Leandro Fernandes é agitada. Aos 28 anos, ele atende clientes, organiza a produção da confecção e resolve problemas administrativos na Camisaria Eurides – empresa que o pai dele, Eurides Fernandes, fundou há 40 anos. Quando Leandro percebeu que o curso de Turismo não lhe traria o futuro desejado, ele próprio decidiu ir trabalhar com o pai, que nunca o havia incentivado para seguir a mesma carreira. Na época com 21 anos, o então estudante Leandro foi aprendendo o ofício de camiseiro – tão pouco comum entre os mais jovens – e, aos poucos, abraçou novas atividades, como a parte administrativa. “Meu pai sempre nos deu a liberdade de fazer o que queríamos. Embora ele nunca tivesse sugerido que eu tocasse o negócio, eu acabei vindo, dando ideias e ele aceitou”, diz Leandro.
Prestes a se aposentar, Eurides chegou a cogitar a possibilidade de fechar o negócio. Mas Leandro deu novo ânimo à camisaria: ampliou o atendimento, contratou novos funcionários e modernizou a produção. “Fiquei muito feliz em saber que meu filho queria seguir em minha área. Me sinto homenageado”, diz o pai.
Palavra do especialista: A psicóloga Angélica Capelari, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Metodista, em São Paulo, diz que nem sempre a influência dos pais ocorre de maneira direta. Muitas vezes, assim como no caso de Leandro, o estímulo acontece por meio do exemplo deixado pelos mais velhos. “Os filhos observam tudo. Se eles veem os pais como modelo bem-sucedido podem ser incentivados indiretamente a seguir a mesma carreira”, explica.
Nutricionista não quis seguir a carreira em odontologia, apesar da vontade da mãe
Até o último minuto, a dentista Rada El Achkar da Silva acreditou que a filha Karla fosse seguir a sua profissão. A decepção veio quando a garota, aos 18 anos, chegou em casa com a inscrição para o vestibular de Nutrição. “Meu sonho era que ela trabalhasse no consultório comigo”, conta a mãe. Karla, ainda criança, acompanhava a mãe no trabalho e demonstrava até mesmo uma certa aptidão. “Teve um dia em que ela pediu para esculpir um dentinho na cera e falou: ‘mãe, eu vou ser dentista igual a você’”, suspira a mãe.
Mas Karla cresceu e mudou de ideia. “Odonto era uma possibilidade, mas não a que mais me atraía. Não conseguia me ver como dentista”, afirma a filha. Já formada, ela é nutricionista de um hospital e adora o que faz. A mãe, Rada, apesar de ter ficado chateada na época, acabou apoiando a decisão da jovem. “Hoje eu vejo que ela está feliz, gosta do que faz e tenho muito orgulho dela”.
Palavra do especialista: Para a psicóloga Nancy Erlach Danon, os pais não devem colocar suas próprias vontades, mas sim servir de orientadores. “O pai conhece seu filho e, lógico, sabe o que ele gosta ou não. Portanto, deve atuar como intermediador e consultor na escolha profissional”, afirma.
A biologia uniu ainda mais mãe e filha
Paula Ferro e Silva Capucho quase nasceu no trabalho da mãe, a bióloga Regina Ruivo Ferro e Silva. Literalmente. “Eu trabalhei até as quatro horas da tarde e a Paula nasceu às oito da noite daquele dia”, conta. A convivência com o universo de trabalho da mãe continuou por toda a infância. Sem ter com quem deixar os dois filhos pequenos, Regina muitas vezes levava as crianças para o laboratório – e começou a notar que a menina estava sempre curiosa para saber como as coisas funcionavam. “Eu passava horas ali. Ela me mostrava as coisas no microscópio e fui pegando gosto pela profissão”, conta Paula.
O gosto foi tanto que Paula seguiu a mesma especialidade da mãe, em bacteriologia, e chegaram até a atuar em parceria em um projeto de pesquisa sobre tuberculose. “Publicamos dois trabalhos juntas em revistas internacionais. É muito bom tê-la na mesma profissão”, diz Regina.
Palavra do especialista: O peso da influência familiar na escolha da profissão dos filhos é grande, pois os filhos “respiram” o ambiente de trabalho dos pais – como no caso de Paula. “Se eles são bem sucedidos, gostam do que fazem e têm orgulho da profissão, certamente isto influenciará positivamente na decisão dos filhos”, explica a psicóloga Nancy Erlach Danon. Porém, o contrário também acontece: se os pais não forem realizados na profissão que escolheram, este fator pode afugentar os filhos dela.
Apoio para as filhas atuarem em outras carreiras
A fonoaudióloga Rosana Maimeri é apaixonada por sua profissão. Dedicada, atua há 30 anos na área e fez diversos cursos de especialização. No entanto, por considerar que o mercado de trabalho neste campo ainda é um pouco restrito, acabou desestimulando as filhas Gabriela e Carolina a seguirem o mesmo caminho. “Eu nunca disse para elas ‘não façam fonoaudiologia’, mas elas mesmas foram vendo as dificuldades que passei até me estabelecer na profissão”, conta Rosana.
Com isso, naturalmente, as filhas optaram por outras carreiras. A mais velha, Carolina, com 19 anos, cursa Economia e já faz estágio na área. Gabriela, de 17 anos, vai começar a faculdade de Direito. “Apesar de termos crescido no consultório dela, a profissão não nos interessou. Acho que é uma carreira ainda pouco reconhecida”, comenta Gabriela.
Palavra do especialista: De acordo com a psicóloga Angélica Capelari, é importante mostrar aos filhos como é a verdadeira realidade de uma profissão. No entanto, o fato de querer evitar que eles passem pelas mesmas dificuldades não vai livrá-los de enfrentar problemas em outras carreiras. “O que se pode fazer é dar dados reais, mas, ao mesmo tempo, mostrar ao filho como superar os possíveis obstáculos”, aconselha.
Fonte: www.ig.com.br
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