População do Pará rejeita criação de Carajás e Tapajós
Maioria dos eleitores disse 'não' à criação de Tapajós e Carajás. Resultado do plebiscito encerra trâmite para a divisão do estado.
Apesar do Não vencer, os números mostram um racha entre as populações. Em Santarém, que seria capital de Tapajós, 98,63% queriam a divisão. Em Marabá, que seria a capital de Carajás, 93,68% foram a favor da criação do novo estado. Enquanto isso, em Belém, que segue como única capital, 94,87% foram contra a divisão do Estado.
Eleitores festejam em Belém o resultado do plebiscito no Pará, que rejeitou a divisão do estado Foto: Raimundo Paccó / Frame / Agência Estado
Como já era esperado até mesmo pelos separatistas, a população do Pará não aprovou a divisão do Estado para a formação dos Estados de Carajás e Tapajós. O plebiscito foi definido em favor dos unionistas. Cerca de 66% dos paraenses votaram contra a criação tanto de Tapajós quanto de Carajás.
O presidente da frente contra a criação de Carajás, o deputado federal Zenaldo Coutinho (PSDB), classificou o resultado como definitivo. “Não há condições políticas para se discutir (outro plebiscito) nos próximos 50 anos”, disse Coutinho.
Votação mostrou separação
A abstenção, também mostrou que o paraense levou muito a sério o plebiscito. Foi de 25% no total, 22% em Santarém, 25% em Carajás e apenas 19% em Belém.
Os separatistas apostaram muito na abstenção da região metropolitana de Belém e cidades próximas para conseguir inverter as tendências apontadas nas pesquisas. Mas aconteceu justamente o contrário.
Neste plebiscito, quem decidiu de fato foram os votos da região metropolitana de Belém, absolutamente contrários à divisão. Dois terços do eleitorado do Pará está em Belém e cidades próximas. A região oeste e sul do Estado ficou refém.
A votação ocorreu de forma tranquila em todo o Estado. Com uma ou outra manifestação de animosidade entre eleitores de frentes contrárias, mas sem agressões. As filas nas sessões eleitores foram menores que em uma eleição normal. Também surpreendeu o número de eleitores que esqueceram ou não sabiam ao certo o número pró e contra a criação dos novos Estados.
A partir de agora, será necessária apresentação de nova proposta de plebiscito para que ocorra uma nova votação. Não existe prazo para isso, mas como existem outros projetos em curso, provavelmente o de criação de Tapajós e Carajás ficaria no final da fila. Especialistas em direito eleitoral apontam que o prazo mínimo para uma nova eleição seria de três anos.
Líderes unionistas e separatistas apontavam instantes antes do início da apuração que o resultado contrário à divisão do Estado terá duas grandes conseqüências. Haverá um arrefecimento dos projetos de desmembramentos de outros Estados e também deve ser iniciado agora um lobby para mudanças nas políticas de realização de novos plebiscitos.
A proposta mais polêmica está relacionada à abrangência da votação. Hoje, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determina que toda o Estado a ser emancipado ou que perde território pode votar. As frentes separatistas querem reduzir esse eixo de consulta apenas as regiões que pedem para serem desmembradas.
Na lista de áreas a serem separadas estão o Maranhão do Sul (Maranhão); Gurgeia (Piauí); Rio São Francisco (Bahia); Araguaia e Mato Grosso do Norte (Mato Grosso); Oiapoque (Amapá) e Rio Negro, Solimões e Juruá (Amazonas).
No Pará especificamente, a não aprovação dos estados de Carajás e Tapajós frustrou o sentimento de mudança nas regiões oeste e sul do Estado. Principalmente em Tapajós, porque essa é a oitava tentativa frustrada de desmembramento da região do Pará. Em Carajás, há uma relação de indignação principalmente contra o governador do Estado, Simão Jatene (PSDB). Durante a campanha, houve o acirramento das diferenças entre oeste, sul e região metropolitana de Belém.
Os políticos unionistas afirmaram durante a votação que o plebiscito foi o momento de repensar o Estado do Pará. Eles prometem a partir de agora intensificar as campanhas contra a Lei Kandir, que exonera de impostos os produtos destinados à exportação. Uma das principais beneficiadas seria Marabá pela exportação do minério de ferro da Serra de Carajás.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), defendeu que o Brasil precisa discutir melhor novas propostas de divisão territorial. No congresso, existem aproximadamente 20 projetos de divisão territorial em tramitação. “O federalismo não é estático. O federalismo pode mudar a sua configuração. Depende das migrações internas, da polarização das populações de um pais. Mas é claro que qualquer projeto de divisão do país, de Estado, deve levar em conta estudos aprofundados. Demográficos, econômicos e outros mais”, afirmou Lewandowski.
Além disso, Lewandowski afirmou o plebiscito representou “um teste com relação à democracia participativa”. “Eu penso que não somente a cidadania está madura do ponto de vista cívico, mas a tecnologia eleitoral brasileira está muito avançada. Nós conseguimos apurar o resultado matematicamente consolidado duas horas depois do resultado. Verificou-se que pode se consultar o povo de forma rápida e eficiente”, pontuou o ministro.
Fonte: www.ig.com.br
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