Maioria do STF se posiciona a favor de independência do CNJ
Após dois dias de julgamento, ministros decidiram que órgão pode continuar abrindo investigações independentemente das corregedorias dos tribunais locais; STF analisou ação proposta pela Associação dos Magistrados
Maioria foi a favor da autonomia do CNJ no STF / Divulgação
O Supremo Tribunal Federal (STF) assegurou nesta quinta-feira a
autonomia do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para abrir investigações
e punir juízes suspeitos de irregularidades. A decisão foi tomada após dois dias de julgamento.
Os ministros analisaram uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI),
proposta pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que
questionava os poderes do conselho, fixados por uma resolução interna.
Como se esperava, o placar foi apertado. Dos onze ministros, seis
votaram a favor da atuação "primária" e "concorrente" do CNJ, ou seja,
que ele possa, como hoje, abrir investigações independentemente das
corregedorias dos tribunais. Foram eles: Carlos Ayres Britto, Joaquim
Barbosa, Gilmar Mendes, José Antonio Dias Toffoli, Carmén Lúcia e Rosa
Weber.
Os outros cinco ministros votaram pela atuação "subsidiária" do
conselho, em outras palavras, que ele só possa agir em caso de falhas
das corregedorias. Foram eles: o relator, Marco Aurélio Mello, o
presidente, Cezar Peluso, o decano (ministro mais antigo) Celso de Mello
e os ministros Ricardo Lewandowski e Luiz Fux.
O posicionamento da maioria dos magistrados já era amplamente
conhecido. O voto crucial para decidir a questão foi o da novata Rosa
Weber, que fez sua estreia no plenário do Supremo. "A iniciativa do CNJ
independe de motivação expressa, sob pena de, na origem, eu estar a
retirar a finalidade do controle a ele conferido", disse. "O CNJ pode
sim, tem competência primária para exercer o controle administrativo e
disciplinar".
O resultado do julgamento fortalece a corregedora nacional de Justiça,
Eliana Calmon, que teve a conduta posta sob suspeita depois de mandar
investigar salários de magistrados. Alvo de críticas de associações de
juízes, ela e Cezar Peluso ocuparam lados opostos na discussão. O ápice
da crise ocorreu no fim do ano passado, quando Eliana afirmou que
existem, no Brasil, bandidos vestindo togas. Peluso reagiu publicamente.
Em dezembro, em duas decisões seguidas, dois ministros do Supremo
restringiram, por meio de liminares, a atuação do CNJ.
Debate - O debate, que divide opiniões no Judiciário,
pôs as duas correntes em lados opostos também no plenário do Supremo. De
um lado, o relator, Marco Aurélio Mello, puxou a corrente dos
magistrados que acreditam que o CNJ extrapola suas atribuições. Marco
Aurélio chegou a dizer, durante o julgamento, que o conselho "tudo pode"
Foi seguido de forma enfática por Luiz Fux, que usou números para
justificar seus argumentos. Segundo ele, o CNJ analisa apenas 10% dos
processos administrativos contra juízes que chegam ao órgão e devolve
90% às corregedorias dos tribunais. "Ele, então, pode escolher a
reclamação que vai julgar a bel prazer? Será que é um superórgão?", indagou Marco Aurélio.
A este grupo juntaram-se, também, as alegações de que o conselho só
pode tocar investigações em situações "anômalas" ou "excepcionais". Ou
seja, pode agir apenas com justificada motivação, em caso de falha das
corregedorias. "O exercício da competência do conselho não pode
prejudicar a competência dos tribunais", afirmou o presidente Cezar
Peluso, o último a votar, já na noite desta quinta. "Não é isso que a
Constituição diz e meu compromisso é com a Constituição".
Do outro lado, a corrente vencedora defendeu a plena autonomia do CNJ
sob pena de esvaziar as atribuições do órgão responsável pelo controle
externo do Judiciário. "Até as pedras sabem que as corregedorias não
funcionam quando se trata de investigar seus pares", disse o
ex-presidente do Supremo e do conselho, Gilmar Mendes. "O CNJ não pode
ser visto como um problema. É uma solução, para o bem do Judiciário",
afirmou Carlos Ayres Britto.
O ministro Joaquim Barbosa chegou a dizer que, diante das "situações
escabrosas" reveladas pelo conselho houve uma reação corporativa. A AMB,
autora da ação em pauta, é a principal associação de juízes do país.
Transparência - No início da tarde, os ministros decidiram que devem ser públicas
as sessões de julgamento de processos contra juízes suspeitos de
irregularidades. Iniciado na quarta-feira, o julgamento foi retomado às
14h50 desta quinta. Entre os pontos discutidos nesta quinta
destacaram-se os artigos 4º e 20 da resolução 135 - que determinam que
os julgamentos de processos administrativos contra magistrados devem ser
públicos.
A AMB questionava a publicidade das sessões. Os ministros optaram pela
transparência. “Nenhuma autoridade pode temer o escrutínio público”,
disse o ministro Celso de Mello. “A cultura do biombo, graças a Deus,
foi superada e substituída pela cultura da transparência”, afirmou
Carlos Ayres Britto. “Nas coisas publicas o melhor desinfetante é a luz
do Sol”
O STF analisou ponto a ponto da resolução 135 do CNJ, que define as
atribuições do conselho e trata de punições a magistrados. O
desmembramento tornou a votação longa e complexa. Entre outros itens
analisados, os ministros também decidiram, nesta quinta, que o conselho
não pode impor deveres às corregedorias dos tribunais. A questão mais
delicada do debate - se o CNJ pode continuar investigando magistrados
independentemente da atuação das corregedorias dos tribunais locais -
foi a útlima a entrar em pauta.
Na semana que vem, o tribunal voltará a se debruçar sobre o
imbróglio. Ainda terá de analisar alguns pontos da liminar concedida por
Marco Aurélio no fim do ano passado a pedido da AMB.
Repercussão - Após a sessão, o vice-presidente da
AMB, Raduan Miguel Filho, comentou o resultado: "Estamos vencidos, mas
não convencidos", disse. "Essa decisão pode dar ensejo a que as
corregedorias possam atuar c om mais celeridade. Isso é um reflexo
natural. Mas isso vai trazer um abarrotamento de carga laboral ao CNJ".
O advogado da entidade, Alberto Pavie, afirmou que a decisão cria
uma zona de incerteza em que o corregedor deixa de ser obrigado a levar
adiante investigações sobre irregularidades em seu tribunal. "As
corregedorias ficarão sob um regime de absoluta discricionaridade. Onde
houver um corregedor influente, ele nada poderá fazer", declarou.
Já a Ordem dos Advogados do Brasil comemorou: "O STF zelou pela
Constituição. Essa decisão faz renascer o CNJ", disse o presidente da
OAB, Ophir Cavalcante.
Veja AQUI como os ministros votaram.
Fonte: http://veja.abril.com.br
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