Em golpe da direita, Senado destitui Lugo no Paraguai
Com
39 votos contra quatro e duas ausências no Senado, o já ex-presidente
do Paraguai, Fernando Lugo, sofreu um processo relâmpago de impeachment e
está afastado das atribuições da presidência do país. A Unasul e outros
organismos internacionais manifestaram que não apoiam a destituição e
que não vão reconhecer outro presidente. O país poderá sofrer sanções
por violar a ordem democrática.
Com
a decisão do Senado, o vice-presidente Federico Franco, do Partido
Liberal Radical Autêntico, assume o poder. O Partido não governava o
país há 74 anos. A expectativa é de que Franco faça o juramento ainda
nesta sexta-feira (22). O pedido de impeachment foi aprovado, na manhã
desta quinta-feira (21) pelo Congresso.
Alguns
incidentes violentos começam a ser verificados nas ruas nos arredores
do Congresso, onde cerca de 50 mil pessoas estiveram desde esta
quinta-feira (21) reunidas para manifestar apoio a Lugo. Até o momento,
há o registro de duas pessoas feridas.
Em
declarações às emissoras de TV que estão acompanhando o caso, os
manifestantes expressam desde a tarde desta sexta (22) total
descontentamento com a decisão. Palavras de ordem como “Ditadura nunca
mais” eram ouvidas. Outros, pedem sensibilidade à polícia: “vocês têm
filhos, peço paz”.
Contexto
Desde
a tarde desta sexta (22), as informações de jornais paraguaios davam
conta de que o documento que destituiria Lugo já estava pronto. Essa
denúncia foi apresentada pela defesa de Lugo, que foi realizada na tarde
do mesmo dia.
A
acusação foi articulada de forma que não houve tempo hábil para a
defesa articular os argumentos, uma vez que o prazo para isso foi de
menos de 24 horas. Os advogados de Lugo tiveram apenas duas horas para
fomentar a argumentação.
Foram
cinco as acusações contra Lugo: ato político no comando de engenharia
das Forças Armadas; caso Ñacunday (conflito envolvendo sem-terras da
região); crescente insegurança pública; Protocolo de Ushuaia II
(considerado pelo Congresso como uma afronta à soberania do país) e, por
fim, o recente caso da matança de Curuguaty. Os argumentos apresentados
pela acusação foram baseados somente em matérias publicadas pelos
jornais locais.
Sobre
todas essas acusações, o documento oficial de acusação dizia que “todas
as causas mencionadas acima são de pública notoriedade, motivo pelo
qual não necessitam ser provadas, conforme nosso ordenamento jurídico
vigente”.
O
tom da argumentação dos deputados era violento e ficou evidente o ódio
de classes presente nos discursos. As declarações beiraram o
irresponsável ao aliar o ex-presidente Fernando Lugo ao massacre
ocorrido na última sexta-feira em Curuguaty. Na ocasião, 11 campesinos e
7 policiais morreram em um conflito no campo em uma tentativa de
reintegração. Na ocasião, 100 famílias tentaram ocupar terras do
latifundiário Blás Riquelme, ex-senador do Partido Colorado.
O
caso de Curuguaty ainda não foi totalmente esclarecido, “mas dirigentes
dos movimentos sociais denunciam o envolvimento de franco-atiradores,
que teriam disparado contra camponeses e policiais. Seria mais uma
aplicação do chamado ‘crime de bandeira trocada’, a mesma estratégia
tantas vezes utilizada na região para justificar intervenções e golpes”,
denuncia o professor da Unila, Luciano Wexel Severo, em artigo
publicado pelo Vermelho.
Fonte: Site Vermelho
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