Estudantes negros têm maior probabilidade de insucesso na escola, dizem pesquisas
Imagem: http://correiodobrasil.com.br
Duas pesquisas da Universidade de São Paulo indicam
que alunos negros têm maior possibilidade de fracassar na escola do que
os brancos. Para os pesquisadores o menor êxito dos negros é resultado
de condições socioeconômicas. Contribuem também fatores culturais. Um
deles é o preconceito desenvolvido por professores. Pequena parte deles
acredita que os alunos negros terão, naturalmente, desempenho pior do
que os brancos.
O conjunto de fatores determina que, quando os estudantes chegam ao 6º
ano do ensino fundamental, 7% dos alunos brancos tenham mais de dois
anos de atraso escolar, e entre os negros, o indicador chega a 14%. Os
números são apresentados no artigo Fracasso Escolar e Desigualdade do Ensino Fundamental da pesquisadora Paula Louzano, publicado no relatório De Olho nas Metas de 2012, lançado pelo movimento Todos pela Educação.
O artigo é baseado no questionário
socieconômico da Prova Brasil 2011, aplicada nacionalmente e respondido
por 2,3 milhões de alunos do 5º ano. Dos alunos que responderam à
questão de reprovação ou abandono da escola, um terço havia passado pela
situação de insucesso na escola. Desses, 43% se autodeclararam pretos,
34% pardos e 27% brancos, segundo a denominação adotada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística.
Paula Louzano afirma que os números gerais são alarmantes e o cenário
se agrava mais para alguns grupos sociais. “A chance de isso [repetência
ou abandono] acontecer não é distribuída igualmente entre grupos.
Alguns tem processos mais tortuosos, o que está ligado também ao nível
socioeconômico. A desigualdade que marca o Brasil se reproduz no sistema
de educação”, diz a pesquisadora.
No Norte e no Nordeste, a probabilidade de um aluno preto repetir o ano
ou abandonar a escola é respectivamente 53% e 52%. Para os alunos
pardos, o índice chega a 47% e a 45%. Nas mesmas regiões, a
possibilidade de fracasso entre alunos brancos é 46% na Região Norte e
44% na Região Nordeste. O Sudeste apresenta os menores índices
nacionais, 36% para os alunos pretos, 27% para os pardos e 22% para os
brancos.
A também pesquisadora Marília Carvalho faz pesquisas qualitativas.
Segundo ela, é preciso esclarecer que o fracasso escolar não é do aluno,
mas sim da escola que não foi capaz de dar ao estudante o nível de
aprendizado e desempenho esperado para o período. Durante as pesquisas,
ela observou que a cor autodeclarada pelo estudante está relacionada
também ao seu desempenho.
“O processo de declaração diz respeito a autoimagem que a pessoa tem.
No conjunto da sociedade, quanto mais escolarizada, com maior renda, a
pessoa é clareada. O processo ocorre na escola. Quando as crianças vão
bem, elas são clareadas, tanto para si mesmas quanto para professores e
colegas”, diz Marília Carvalho.
Ela acrescenta que os próprios professores declararam que nunca tiveram
a oportunidade de discutir questões raciais nem durante a formação, nem
no espaço coletivo da escola. “Relações de racismo marcam a nossa
sociedade. As crianças negras têm que enfrentar mais esta dificuldade na
escola, têm que se afirmar a todo momento e gastam parte da energia que
deveria ser voltada ao aprendizado para se defender”.
Fonte: Agência Brasil de Notícias
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