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OPINIÃO: Entre redes e paredes, internet desafia a velha escolha


Como a tecnologia da informação, ou seja, a internet e os meios pelos quais nos conectamos, está mudando a escola como ferramenta primordial de educação? É possível confinar 40, 50 crianças entre quatro paredes numa geração ligada em rede? Essa pergunta crucial é respondida por um livro que faz duras críticas à escola como a vemos hoje e passa longe da visão romântica da função das TICs, ou seja, da Internet, dentro da sala de aula.

Até então vista primordialmente como ferramenta de melhoria do aprendizado e da excelência educacional, a internet mais deseducada do que educa, porque contrapõe ao modelo de confinamento uma sociedade plural, multifacetada e que não respeita ordem nem hierarquia. É o que, defende, em tese, o livro. A autoridade se desfaz numa lógica consumista em que mesmo quem não produz já é sujeito no mercado consumidor, que de fato dita as regras das novas gerações Y. A escola não mais forma para o mercado de trabalho, mas é, ela própria, moldada nos hábitos de consumo dessa turma voraz por novidades e viciada pelo uso descartável de tudo que as cerca.

A autora de Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão, a argentina Flávia Sibilia, não apenas se pergunta para que serve a escola. Mas ela mesma responde: a crise está instalada num ambiente originalmente moldado para disciplinar, educar, enquadrar e atender aos modos industriais de produção, antigos padrões que sucumbiram à modernidade em que a doutrina cedeu lugar ao diálogo fulgaz; a rigidez virou bullying e o confinamento foi rompido pela convivência em rede.

É interessante observar que, além de propor um novo modelo pedagógico para a escola, impõe-se uma discussão ética e moral para a sociedade à luz do seu futuro dentro do modelo de contensão das tensões sociais que nos leva uma convivência que deveria ser, no mínimo, pacífica. É por isso que fracassa o projeto da civilidade plena nas sociedades modernas de hoje. Se a família delegou à escola a função de educar, gerar valores e impor limites, esta, por sua vez, escola, cedeu às seduções do consumo e mercantilizou-se por si própria, relativizando, graças aos poderes do mercado e ditames do dinheiro, as regras de quem pode mais ou menos.

Em resumo: a escola reduziu sua função precípua em como agradar esses jovens consumidores, ao invés de educar e formar… futuros trabalhadores.

Num ambiente em que se questiona como aumentar o número de laboratórios de informática como panaceia para todos os males e ampliar o conteúdo didático e pedagógico na Internet, a discussão sobre o impacto das novas gerações de tecnologia entre as novas gerações de pensadores e formadores de opinião encontra terreno fértil em questões bem mais subliminares, que invadem o terreno da psicologia e da antropologia, sem falar no estudo da crise que avassala o modelo do capitalismo a qualquer preço.

Como levar essa discussão ao cerne de um novo projeto de telecomunicações e democratização dos meios de comunicação e novas formas de acesso à informação talvez seja um grande desafio que, implica, necessariamente, revisão de falsas verdades e reavaliação de conceitos, que por sua vez falseiam ideologias em rotas de colisão. Parece que a escola dá adeus ao ideal de iluminismo de formar jovens questionadores e conscientes de sua missão para se encaixar em projetos de vulnerabilidade social e dispersão subjetiva, em que nem ela mesma, escola, sabe mais a que servem as quatro paredes.



* Jornalista e consultora legislativa da Câmara dos Deputados nas áreas de comunicações, ciência e tecnologia. Apresenta a coluna "Papo de Futuro" todas as terças-feiras, às 9h, no programa Com a Palavra, da Rádio Câmara FM.

Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/

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