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PMDB, o maior e mais contraditório partido nacional.

Ex-ministro compara o velho MDB à sigla ora comandada por Temer. “O partido que teve em Ulysses Guimarães como notável presidente da Câmara tem hoje Eduardo Cunha. Que teve no senado líderes como Tancredo Neves e Paulo Brossard tem hoje Renan Calheiros e Romero Jucá…”

Há pouco mais de um mês, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) assumiu o governo de maneira transversa. É a primeira vez que o partido se acha em tal posição, depois do governo de José Sarney – que não era peemedebista autêntico, apenas um adesista oriundo do partido governista do regime militar, que assumiu por ter sido vice de Tancredo Neves em uma eleição indireta.

Portanto, o PMDB nunca foi habituado a governar nem a disputar uma eleição direta com esse propósito. A última vez que concorreu foi em 1989, com Ulysses Guimarães. Depois disso, preferiu fisiologicamente “estar” no governo e não “ser” governo, usufruindo dos bônus sem se responsabilizar pelos ônus. Por isso, não devem os brasileiros se surpreender com erros e contradições deste interino governo peemedebista representado por Michel Temer.

O partido nunca teve traquejo para governar. Ao menos no nível federal.

O PMDB é um partido que merece profundo estudo sociológico e político. Por que mudou tanto em tão pouco tempo da história política brasileira? Hoje é totalmente transformado e cheio de contradições, desfigurado e irreconhecível daquele que começou com a defesa de exponenciais bandeiras e enfrentando a ditadura militar.

Esse partido teve seu início como principal paladino das esperanças dos brasileiros. Nasceu MDB (Movimento Democrático Brasileiro), quando o governo militar, por decreto, tornou extintas as siglas existentes, determinando a formação de apenas duas, a Arena (governista) e o MDB (oposicionista). Este desempenhou bravamente seu papel desenvolvendo vigorosa resistência. Reunia expressivas lideranças e as mais variadas tendências democráticas. Quem era contra o regime de então estava no MDB.

Depois veio o pluripartidarismo, o “movimento” se tornou “partido” e continuou com mais vigor sua luta pela redemocratização. Defendendo eleições diretas em todos os níveis, convocação da Assembleia Nacional Constituinte e liberdade de imprensa e dos sindicatos de trabalhadores. Lideranças como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Paulo Brossard, Pedro Simon, José Richa e outros nomes integravam o partido que conquistou amplo apoio popular e elegeu expressivo número de governadores, prefeitos e vereadores, mesmo enfrentando casuísmos eleitorais do regime.

Com forte unidade, lançou Tancredo Neves candidato (ainda pelo sistema de eleição indireta) para conquistar o governo e poder implantar as reformas que pregava. É sabido que quem acabou assumindo foi o vice-presidente José Sarney, e desde seu governo o PMDB esteve dividido. E assim foi com todos os demais governos, com um grupo apoiando e outro criando dificuldades, geralmente para negociar – o que acaba atrapalhando a governabilidade, porque a falta de unidade a um partido da base aliada obriga o Executivo a negociar não apenas com o líder das bancadas na Câmara e no Senado, mas também individualmente e com grupos parlamentares.

Essa postura do partido, já em 1988, levou dissidentes a saírem para fundar o PSDB. Embora o pluripartidarismo tenha possibilitado a formação de novos partidos para acomodar as mais variadas tendências, o PMDB continuou abrigando grupos de diferentes ideologias sem ser propriamente um partido, mas uma frente extremamente miscigenada politicamente. Ao longo do tempo perdeu sua identidade, descaracterizou-se.

Ainda no final da década de 1980, eu era deputado federal filiado ao PMDB e ocupava o cargo de ministro da Saúde, oportunidade em que fiz pronunciamento pregando a autodissolução do partido por entender que seria a melhor alternativa. O PMDB havia cumprido com relevância sua missão, principalmente na luta pela redemocratização do país, mas se tornara uma frente multifacetada, abrigando muitas tendências que o desfiguravam.

Então, sugeri que fosse feita uma festa cívica e, depois disso, se declarasse extinto o partido, levando os grupos e lideranças que se instalaram na sigla a procurar partidos afinados com suas ideologias. Claro que as mais expressivas lideranças peemedebistas discordaram da sugestão, o partido seguiu sua trajetória e acabou no que é hoje. Inclusive com lideranças denunciadas por corrupção. O partido que teve em Ulysses Guimarães como notável presidente da Câmara Federal tem hoje Eduardo Cunha. Que teve no senado líderes como Tancredo Neves e Paulo Brossard, tem hoje Renan Calheiros e Romero Jucá…

Esse é um exemplo dos males da política partidária brasileira. Falta coerência, definição e vontade de produzir um trabalho renovador em todos os sentidos. Enquanto isso não acontecer não há esperança de melhoria geral, o país e os brasileiros continuarão convivendo com problemas e sofrendo suas consequências. Em país que vive plenamente o estado de direito, a política é instrumento fundamental. E é primordialmente desenvolvida a partir de partidos fortes e de lideranças comprometidas com o bem-estar nacional. Quando os políticos não correspondem, o país está em grave risco.

* Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, empresário e professor. Foi deputado e ministro da Saúde entre 1987 e 1989, durante o governo José Sarney (1985-1990).

Fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/

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