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Saiba como a nova pirâmide financeira vai tentar enganar você

Em um mundo no qual as mulheres são maltratadas, é fundamental que nos apoiemos e nos conectemos à nossa espiritualidade. Essas palavras soam muito bonitas, não é mesmo? Agora, e se disséssemos que esse discurso está sendo usado para sustentar um esquema de pirâmide financeira? A “Mandala da Prosperidade”, também chamada de “Tear dos Sonhos”, já é velha conhecida nos Estados Unidos e em outros países da América Latina, mas chegou há pouco tempo no Brasil e vem ganhando espaço – secretamente, já que as participantes são orientadas a não falar sobre o assunto em público.

O esquema é camuflado em um ideal que mistura conceitos de feminismo – alegando que a “Mandala” rompe o sistema econômico tradicional que oprime as mulheres –, a elementos de espiritualidade new age, como a ideia do “Sagrado Feminino”. Defende-se que a energia da união das mulheres seria capaz de trazer prosperidade e evolução espiritual.

O discurso que envolve sororidade e misticismo conquista mulheres bem intencionadas, que não percebem que prejudicarão as demais para que elas consigam o dinheiro prometido. Muitas delas, inclusive, estão em situação econômica ou emocional vulnerável. Foi o caso da profissional de comunicação e multimeios Juliana Farias, convidada para participar de um desses grupos em 2014, quando morava nos Estados Unidos.

Uma grande amiga fez o convite enquanto ela passava por dificuldades emocionais por estar em um país estrangeiro. “A princípio, o que ela me contou era muito mais sobre o lado espiritual, que essas mulheres se uniram para ajudar umas às outras a construírem seus sonhos”, relata. A conversa sobre dinheiro só veio depois.

Como funciona

A promessa é de que as participantes multiplicarão o dinheiro, evoluirão espiritualmente e ainda ajudarão outras mulheres. Para isso, é preciso convidar amigas para participar da “mandala” – grupo de 15 mulheres organizadas em hierarquias. Imagine um círculo de quatro camadas: oito mulheres na camada mais externa e, sucessivamente, quatro, duas e uma no centro. Cada uma dessas camadas recebeu o nome de um elemento da natureza – respectivamente, fogo, ar, terra e água. Isso acontece porque, de acordo com o sistema, as integrantes “desbloqueiam” os elementos em si mesmas cada vez que passam de etapa, dando a impressão de que a mulher que chega ao centro alcança um estágio de evolução superior.


Quando uma mulher chega ao centro, fatura uma bolada, que promete ser de oito vezes o valor “investido”. “Disseram que isso acontece por causa da Lei da Atração. Quando você coloca energia boa no mundo, ajudando as pessoas, o Universo devolve para você”, elucida Juliana. Porém, logo a comunicadora captou que a história era boa demais para ser verdade. Quem entra no esquema precisa doar (ou “dar de presente”, usando o linguajar do esquema) US$ 1.700 (aproximadamente R$ 5.540 na atual cotação do dólar).

Cada vez que uma mulher ganha o montante, ela sai da “mandala” e todas as demais sobem um nível. Agora, aquelas que fizeram a doação por último devem convidar duas novas integrantes, que também terão de desembolsar o valor. “Por mais amor e confiança que eu tenha nas mulheres e por mais incrível que a ideia fosse, não dá pra entregar tanto dinheiro na mão de alguém que você nunca viu e esperar que o Universo devolva”, argumenta Juliana.

Sua percepção estava correta. Bastam alguns cálculos para perceber que a conta não fecha. A única maneira de todas terem lucro seria se a população feminina da Terra fosse infinita! “Não existe dinheiro fácil e rápido. Se você consegue isso, tenha certeza de que alguém está sendo prejudicado. Em uma escala de 1 a 10, provavelmente, só duas pessoas se dariam bem”, alerta Neiva Maróstica, coach e professora da IBE-FGV. A atriz Sheylli Caleffi fez um vídeo no YouTube mostrando como, matematicamente, é impossível que todas levem vantagem. Assista e entenda:


Cura da alma

Muitas das integrantes das “mandalas” afirmam que o lado financeiro fica em segundo plano diante do crescimento espiritual e do suporte emocional que os grupos oferecem. Por isso, as maiores vítimas são mulheres em situação de vulnerabilidade. “Temos um papel muito importante nas finanças da casa, então, em momentos de crise, ficamos tão preocupadas que acabamos caindo nessa conversa”, explica Neiva. E isso se prova na prática: “Se eu estivesse em pior situação financeira, talvez teria ficado muito interessada”, confessa Juliana. Para a professora, a situação só piora quando o discurso toca nossa essência ao apelar para a espiritualidade e pela vontade de realizar nossos sonhos e ajudar ao próximo.

No final das contas, Juliana não aceitou o convite. “Acredito em energias, mas acho que quando cultura oriental vem para o Ocidente, o nosso jeito capitalista acaba contaminando-a”, emenda.

“Tome cuidado com estes discursos de apoio mútuo e dinheiro rápido e fácil. A ideia parece bonita, especialmente para quem passa por um momento difícil, mas a proposta nada mais é do que uma pirâmide financeira, na qual muitos saem prejudicados para beneficiar os poucos que começaram com o esquema, apenas uma outra forma de golpe”, recomenda Carolina Sandler, especialista em educação financeira e fundadora do Finanças Femininas. A reportagem do Finanças Femininas não conseguiu entrar em contato com os organizadores da Mandala da Prosperidade.

Fotos: Shutterstock

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Fonte: http://financasfemininas.uol.com.br/

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