CNS diz que governo Bolsonaro cancelou compra de medicamentos do ‘kit intubação’
Itens necessários para intubar pacientes com Covid-19 estão acabando em inúmeros hospitais brasileiros; Conselho Nacional de Saúde alertou governo sobre risco de desabastecimento no ano passado
Nesta sexta-feira (19), veio à tona a notícia, através de dados das secretarias estaduais de Saúde, que estoques públicos de medicamentos para intubação estão perto do fim e podem acabar nos próximos dias. A intubação é o procedimento que tem sido utilizado para o tratamento de pacientes com quadro agravado de Covid-19.
Um relatório do Conselho Nacional de Saúde (CNS) de agosto do ano passado mostra que o governo Bolsonaro já havia sido alertado sobre o risco de desabastecimento desses itens necessários para a intubação. No mesmo documento, o CNS informou ainda que o Ministério da Saúde cancelou a compra de parte desses medicamentos.
“Considerando que o processo de compra, conduzido pelo Ministério da Saúde a partir do consolidado de demandas hospitalares dos estados, em 12 de agosto de 2020, obteve êxito parcial, tendo em vista que dos 21 itens, 13 foram cancelados, 12 no julgamento, e 1 por inexistência de proposta, sendo a situação de cancelado no julgamento motivada por preços acima das estimativas de mercado”, diz um trecho do relatório.
“Considerando que o desabastecimento desses medicamentos coloca em risco toda a estrutura planejada para o atendimento de saúde durante a pandemia do novo coronavírus, pois mesmo com leitos disponíveis, sem esses medicamentos não é possível realizar o procedimento, podendo levar todo o sistema de saúde ao colapso”, diz ainda a entidade em ofício do dia 20 de agosto.
O chamado “kit entubação” é composto de, entre outros itens, remédios para anestesia, sedação e relaxamento muscular. Pelo menos três estados e o Distrito Federal estão com os estoques em nível crítico: Paraná, Santa Catarina e Pará são os mais preocupantes.
No Pará, 12 hospitais da rede estadual só têm estoque para mais 15 dias. No Paraná, os bloqueadores neuromusculares são suficientes para apenas dois dias. Sedativos e analgésico duram somente mais uma semana.
O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal chamou a atenção para o baixo estoque de antibióticos e sedativos na rede pública de saúde. Alguns remédios já estão com o estoque zerado: propofol, que é um anestésico geral de curta duração; e o vecurônio, realxante muscular, que seve para facilitar a introdução do tubo na traqueia.
A situação em Florianópolis também é grave. O hospital estadual Nereu Ramos está diluindo os medicamentos para intubação para render mais. A Secretaria de Saúde de Santa Catarina diz que há risco de desabastecimento.
De acordo com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, as reservas atuais durem apenas 20 dia. O órgão pede que o Ministério da Saúde garanta com a indústria a continuidade do fornecimento.
Na última quarta-feira (17), o Ministério da Saúde informou que fez uma requisição de 665,5 mil medicamentos para intubação para um período de 15 dias. Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) flexibilizou as burocracias para a aquisição dos itens com o objetivo de facilitar a reposição.
Confira, abaixo, trecho do relatório da CNS sobre o alerta de desabastecimento do kit intubação.
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